Too much

O que tem eu não gosto, o que eu gosto não tem. O que eu quero é simples demais e o que o mundo quer precisa de mais simplicidade. Passo os dias com cara de enjoo. "Esse é lindo", me dizem, e eu respondo "é horrível". Sou um antónimo personificado. Preciso de mais brilho, mais decote, mais longo, mais justo. E eu quero menos. Sempre menos.
"Sou chata", justifico. E provo outra renda, outra lantejoula. "É feio", digo, para abafar todos os suspiros. Porque aqui é assim. Perguntam o teu nome mas na verdade só te chamam de "querida", às vezes, de "amor".
- Prova esse, amor, 'tá saindo muito.
- Não gosto, não.
- Nossa... mas é tão bonito.
- Não acho bonito, acho feio. Muito feio.
- Que nada... Está na moda.
Eu já nem respondo. Fecho a cortina. Obrigada e adeus.
"Quer um saltinho, querida?". Não. Não gosto de salto. Não vou de salto. Caras de choque, de desilusão. Porque você sabe, né? Madrinha sem longo não é madrinha. Longo sem salto não é longo. Sapato sem salto não é sapato. E então, eu não sou ninguém. Conclusão lógica.
No fundo tudo é uma questão de opinião. E a minha, claro, é a que está certa. "Sou simples", explico ao entrar na loja. E me encho de orgulho.
Simples é o que eu sempre quis ser.

Lembra-te

Convivo à demasiado tempo com a minha memória de peixe.
Talvez por isso escrevo.
Para não esquecer aquele dia em que cheguei a uma aldeia hostil. Viciados em opio, lixo, ruas de barro e um hotel sem internet. Desconectada do mundo, sem vistas bonitas nem companhia para passar o tempo.
Fui passear. Objectivo: almoço. O primeiro restaurante era sujo e escuro, o segundo, também. Mas foi então que lá ao fundo, na sombra, entre o arroz frito e a Beerlao vi o que parecían ser dois olhos redondos. Duas peles brancas. Duas línguas com letras conhecidas. Westerns?
Aproximei-me com cara de esperança. "Olá", disse no meu melhor inglês, "a comida aquí é boa?", perguntei sem me importar com a resposta. Eles já tinha esvaziado o prato.
O próximo passo era o ataque. "Posso sentar-me com vocês?", propus. "Sim, mas acabamos agora mesmo de comer", disseram. E eu retruquei, enquanto puxava uma cadeira: "Não há problema, eu como rápido".
Passámos a tarde juntos. Até trocámos números de telefone.
Viajar sozinha é isto. Fazer amigos à força. Não ter vergonha. Falar, partilhar e ser, porque não, um pouco egoísta.
Egoísta como naquele dia em que recusei viajar com uma rapariga só porque ela mencionou ter poupado 50.000 euros para esta viagem de 6 meses. Fiz-lhe um adeus com a mão e com um sorriso disse-lhe "see you around". Ela ficou com cara de pendurada. E eu segui o meu caminho com os meus 20 euros diarios.
Viajar sozinha é escolher. Como isso que se dizem dos trabalhadores por conta própria: "fazem o seu horario". Quando troto o mundo sem partner acordo às 6 da manhã e vou para a cama às 9.30. "Fica mais um bocado", pedem. E eu respondo "não". Um não, pela primeira vez, sem remorsos, sem dúvidas, sem "e se...". Não porque não me apetece, porque a viagem é minha e eu faço o que eu quiser.
Um não tão (prazerosamente) egoista.

Voltar

Voltar é dormir de conchinha, é ter chave de casa e um edredon da Minnie no sofá. Voltar é ser recebida com flores, sol, balões e beijos. Não queria voltar mas voltei e bem que gostei.
Gostei de ter um armario cheio, duas escovas de dente e uma parafernália de cremes para o cabelo. Gostei de voltar ao supermercado e comprar comida de verdade.
Porque voltar para casa é cozinhar, ler as noticias, ouvir vozes familiares na radio. Queixar-se do tempo. E ter tempo. Em casa os segundos passam a outra velocidade. Não há um horario para o breakfast, não há pressa para reservar o autocarro, não há chaves na porta do hostel, nem o happy hour das 7 às 9. Aqui a cerveja é quando eu quiser. 
Estar em casa significa ter uma bicicleta. Aulas de italiano e um quarto que faz de ginásio. É sinónimo de ter amigos que duram mais de uma semana. As caras repetem-se uma e outra vez.
A casa cheira a nós e não sentimos cheiro. A cama está amoldada ao nosso corpo. A rotina integra-se com rapidez. As manias retornam e os pensamentos também. 
Voltar a casa é achar inaceitável dormir com baratas, tomar banho de agua fria, ir à praia sem depilação. Quem faz essas coisas? Hoje paguei 20 euros num almoço. Há uma semana paguei 1 e achei caro.
Naquele mundo acordava às seis de manha, neste, faço um esforço para não adormecer antes da uma. 
Voltar é bom o problema é esquecer que fui. 

Eles

A Silvia e o Mauro. O Mike e a Mary. A Liz e o Rô. A Brailey contando do seu trauma da Tansmania. A Rose comendo arroz branco e Coca Cola. A Daisy e o Richard. Ele, com medo de moscas, ela, que depois de conhecer a Mongolia deixou a depilação. A Cris, que abandonou a crise espanhola e pôs a mochila às costas e a Ottavia que reclamava, protestava e criticava mas, no fundo, tinha um coração mole. A Luisa e a sua risada tímida e comentários ingénuos. 


A Vivu, que foi entrevistada mas também amiga. O Henry, a Asha e o Volker que me fizeram sentir em casa, rir até ter lagrimas nos olhos, beber demasiada cerveja, participar em dramas amorosos e considera-los "amigos de verdade". A Rachelle, o Scot, o Harrison, a Amelie, o Tobin e o Marcos que conseguiram que eu acreditasse que outro tipo de familia é possível. 


A Paloma e o Sergio. Outras vítimas da crise com quem partilhei viagem, cervejas e confidencias com selo espanhol. As galesas de quem não decorei o nome. Os alemães do autocarro que não falavam ingles. A Caroline, medica, e com medo da street food; as argentinas peronistas e os Oscar. Foi tão bom reencontra-lo. O Daniel e os seus whatsapps de engate. O Andres, tão inseguro mas que se despia em público com naturalidade. O Chris e a Lee. "Vaya 3", diríamos em España. Un americano com ataques de ansiedade, uma teenager "demasiado madura para a sua idade" e eu. Bombastico.



Depois chegou o grupo do centro. A Detta e o Iupe: o casal zen. Deles invejei a independencia e a calma. Fiz uma nota mental para tentar imita-los. O Jelte e a Lea que entraram rapidamente para lista de favoritos. Com ele viajei de moto, saltei em cascadas selvagens, comi demasiada "passion fruit" e rompi um dos 5 preceitos. "Fazemos só quatro e meio que uma cerveja não faz mal a ninguém", dissemos.



Depois vieron o Luke e a Nina. Ele tão francês, tão olhos azuis, tão coração partido. Ela, que virou amiga e companheira de motorbike, de templos vazios, vistas de perder o fôlego, regateios e todos os night markets que existiam à face da terra. 
E chegou a Birmania e com ela a Sarah e a chuva de Bagan. Descobri o Pedro e recordei como Portugal sempre será "casa".  Deixei-lhe a Emma e o japonês. Ela, londrina do mundo das finanças farta de computadores. Ele... se conseguíssemos entendê-lo poderia contar-vos algo.
Foi então que apareceu o Pablo. "Contigo a conversa nunca acaba", disse-lhe. "Olha que tu", respondeu ele. 


E então falámos horas a fio, conhecemos templos, trabalhamos muito, stressamo-nos, gargalhamos no meio das ruas caóticas de Yangon e comemos rothi. Ele de Longyi e eu de thanaka. 
E para acabar, nada melhor que uma familia: a Lea, o Tim, a Kiki e o Raf. Tão modernos, tão acolhedores, extrovertidos, tão generosos. Tão perfeitos.
Sem ele, sem todos eles, estes dois meses não teriam tido graça nenhuma. 




Os 29 que acabaram em herpes


Disse que queria um dia relaxado. Com amigos, sem autocarros. Com agua quente, sem stress. Num sitio com internet para receber chamadas e o amor que vem do outro lado do mundo.
Disse.
Mas ja aprendi que aqui a palavra não tem valor. O dizer não faz historia. 
Quando me apercebi já tinha rasgado aquele bilhete de autocarro, despedido os planos de um aniversario à beira lago e estava num taxi, as 3 da manha, rumo ao incerto.
Incerto para mim é entrevistar um monge birmano que ameaça musulmanos. Incerto é ver o nascer do sol num carro desconhecido. De pequeno almoço: churros chineses e chá com leite condensado. Incerto é pôr a velocidade a 50, o foco em manual e o papel branco à frente da cara do "bin laden". Incerto é apertar o REC com borboletas no estomago. 
Nessa altura ainda tinha 28.


"O que fizeste no dia do teu aniversario?", perguntam. Caminhar por estradas sem carros, visitar templos vazios, dizer uma e outra vez "esta cidade é absurda". Almocei fruta e jantei pão numa área de serviço. Passei 5 horas num autocarro. No fim da noite, contabilizei. No dia dos 29 recebi cinco chamadas. Não pude conectar o whatsapp nem o Facebook. Os "parabéns" ficaram sem ler nem responder. Não soprei velas nem recebi presentes.
Os 29 começaram na Birmania com tanto stress que acabaram em herpes. Os 29 foram imperfeitos, interessantes, diferentes, desafiantes, intensos e, porque não, históricos.
Quem sabe um principio de um novo ato. 

O centro


Durante 4 dias desapareci. Desapareci e encontrei-me dirão alguns. Desapareci para busar-me, direi um dia. Quem sabe.
Esperava quatro dias de silencio absoluto, de mantras, kharmas, noites mal dormidas num chão de bambú e um estômago a roncar de fome.
Não tive nada disso. Quase nada. E o que tive foi infinitamente melhor.


Conforto, disse o "teaching monk" de nome impronunciavel. Para encontrar o centro precisamos de conforto. Um conforto mínimo. Suficiente. "Less is more", dizia a toda a hora. E nós absorvíamos. 
Durante quatro dias procuramos o centro e vivemos em mínimos. Fecha os olhos. Cruza as pernas. Conecta as mãos. "Bright and clear", repetiamos vezes sem conta. 


"Meditaste de verdade?", perguntam-me. E eu digo que sim. Algumas vezes, sim. É como um estado de hipnose, costumo explicar. 
Foram dias de paz e natureza onde o pensamento estava proibido. "Pensar não é sempre uma virtude", disseram-nos. Eu lutei contra essa verdade, mas acabei aceitando, evitando o raciocinio e concentrando-me no "nada". O meu nada está no meio da barriga e tem forma de bola de cristal. Quem diria.


O pais da primeira vez

O Cambodia é um pais de contrastes, contradiçoes e, talvez por isso, para mim, o pais da primeira vez.


Não me esquecerei que foi aqui onde chorei num museu. Os Killing Fields. Onde fui a uma praia paradisiaca para nadar no mar durante a noite. Ali, sem electricidade nem lua, o nosso corpo se iluminou debaixo da agua graças ao planctum. Gritei de felicidade e assombro. 


Tive a minha primeira intoxicação alimentar (não me podia livrar de uma) e comi o meu pior jantar (tenho a sensação que as duas coisas estão relacionadas). 
Fiz a minha primeira entrevista em video 100% sozinha e tive problemas. Vários. Superei-os todos. 
Realizei um sonho entrando em uma das 7 maravilhas do mundo, suspirei com o amanhecer em Angkor Wat, dormi sorrindo com os pés nas aguas turquesa de Kho Rong, vi uma migração de 8 milhões de morcegos, comi noodles recém feitos e fiz bons amigos. 


MAS. Mas esta foi também a primeira vez que tive "mixed feelings". Na capital Khmer acabei  sozinha num hostel vazio. Tomei sumo de cana de açúcar e contribui para o PIB nacional com varias doses de fruit smoothies ao dia para compensar a minha má alimentação. Porque no Cambodia toda a comida tem alho. E o alho me faz vomitar. Não vomitei mas tive dor de barriga, passei fome, sede e calor. Revoltei-me com o lixo na rua, com a arrogância e com as más formas. Tentei compreende-los. Vivi na pele o que significa estar "no segundo pais do mundo com mais feriados" e escutei uma e outra vez que estavam fechados pela "festividade". O feriado (de 2 dias) durou, na pratica, 2 semanas.


Este foi o pais dos sentimentos encontrados. Detestava o constante cheiro de comida podre na rua e, um segundo depois, me surpreendia com a beleza do lugar. Discuti com um motorista e 5 minutos mais tarde estava a rir-me às gargalhadas com outro. Fui enganada (isso é inevitável) e também dei gorjetas pela honestidade inesperada. Fiz o pior tour desta viagem e um dos melhores também. Detestei e adorei. Frustrei-me e surpreendi-me. Tentei sair do branco e negro, procurar os tons cinzas, fugi dos turistas e encontrei-me.
"Gostaste do Cambodia?", perguntam-me. Eu digo que sim, claro que sim. Quem disse que as coisas fáceis eram as melhores?

Calçada de alto risco

"Madam, madam, Tuk tuk!" É o primeiro que se escuta ao sair à rua. Tanto faz se são as 6 da manhã, as 3 da tarde ou 1 da madrugada.
Eh, lady, Taxi? Motorbike?



Respondo que não (com um sorriso) explico-lhes que gosto de caminhar. Mas eles não percebem.
"Very far, very far", dizem. Mas "how far" pergunto eu. "Ufffff.... 20min", explicam.
Nem em Laos, nem no Cambodia, nem na Tailandia, nem no Vietnam. Por aqui caminhar é um exercício de alto risco.

A moto é o veiculo familiar. Serve para levar os filhos ao colegio, transportar mercadoria, para ir a trabalhar e também para passear. Nela cabem 2, 3, 4 e até 5 pessoas. O bebé, a esposa e o animal de estimação. A comida, a vassoura ou a estatua de um buda gigante. Tudo encaixa nestas motos de pouca potencia que se multiplicam à velocidade da luz e que pouco tempo substituíram os pés.
As motorbike, essas que tanto poluem, que arrastam os remolques transformados en tuctucs, que apitam para avisar da sua presença... Essas motos são também as que ocupam a calçada enquanto senhores de giz na mão e talonario no bolso montam estacionamentos improvisados.




Em frente às casas vivem dezenas delas, mas não só. O passeio serve como deposito de coisas velhas, para acumular lixo ou até para montar um negocio.  Restaurantes portáteis de comida precozinhada invadem o cemento do sudeste asiático. Vendem fritos, sumos, noodles, fruta ou baguetes. Vão acompanhados de mesinhas e bancos de plástico. Invariavelmente vermelhos e azuis. É a street food, tão falada e popular. Foi também ela que roubou a calçada a estes individuos. Misturam-se com os mercados improvisados de roupa, sapato, material de construção, higiene ou brinquedos. Com mesas de jogo e os pequenos espaços de diversão. Porque aqui a calçada é um sitio para estar. Descansar agachado nessa postura tão pouco confortável para os ocidentais. Beber uma Beerlao. Fumar. Ver a vida passar. 





A calçada, como podem perceber, está ocupada. E então qual é o sitio dos pedestres?, perguntam os ingénuos. A questão é mesmo essa: por aqui não há pedestres.
"Nooo, noooo, too far", dizem-me cada vez que quero caminhar mais de um kilómetro. "Better motorbike", explicam-me acrescentando que só me custará um dolar. E eu, uma e outra vez, recuso-me e acumulo horas esquivando o lixo, pisando no barro, tropeçando nas pedras, ocupando a rua como um veiculo mais e parando, sempre que quero, para admirar esta vida "estrangeira". Porque por muito que aqui passear seja só para lunáticos ainda não consegui descobrir uma maneira melhor de viajar. Mesmo que a calçada esteja ocupada.

Desconfia

Tu, mochileira, que estas há um mês a viajar sozinha. Lonely travelers, chamam-vos. Um dia alguém, quem sabe invadido por uma bondade genuina, pergunta: “Queres que segure a tua mochila?”, e quando percebes já disseste que não. Claro que não. Tu e a tua mochila são só um. Ela é, na verdade, a tua única conexão com a realidade. Sem ela andarias sem rumo. Sem dinheiro, passaporte, internet, água e comida. A mochila é a tua casa, a tua essência, talvez. O remédio para as horas mortas, o entretenimento para os autocarros intermináveis. A última coisa que pensas antes de dormir e a primeira que tocas ao acordar. Os mais pícaros até lembrariam daquelas noites de sono leve e preocupado onde a mochila foi como um filho protegido pelo abraço apertado. 
Não, disseste. Porque não confias. Nem naquele desconhecido com cara de bonachão, nem nos amigos de há mais de dois ou três dias (toda uma eternidade para estes tempos). Não confias em ninguém, em suma. Só em ti. 
Viajar sozinha tem este ponto amargo, acido, ruim. Quando tu es a tua unica voz, o teu proprio doubleckeck, o teu diabo e o teu grilo falante. Quando tudo depende de ti e de mais ninguém, desconfias. Sempre.
Daquele senhor que pergunta de onde vens, que quer ajudar-te com o mapa. Da idosa que te oferece comida, que te põe uma pulseira no braço. Da rapariga que pousa para a tua foto (pedirá dinheiro?), do menino que brinca entre as tuas pernas (estão a tentar distrair-te?). Da senhora que te recomenda um restaurante (o que ganha com isso?), do mochileiro que diz que gostou do tour (essa gente gosta de tudo), do turista que diz que é barato (aposto que é rico e não tem criterio), do que fala bem de um hostel (talvez a sujidade não lhe incomode), do copo de agua que não sabes de onde vem, da comida que aparece sem ter passado pela cozinha. Do caramelo. Do desconto. Do kilo de fruta demasiado barato. Quando te apercebes passas o dia a desconfiar, a pôr cara seria, a tentar, tantas vezes sem sucesso, que não te roubem. Dinheiro, tempo, animo e felicidade.
Madam, hello, madam, dizem. E tu, automaticamente, dizes que não com a cabeça. Fazes bem, viajeira mochileira, é bom desconfiar, ouvir historias e aprender. Mas não te amargues. Aprende a dizer que não com um sorriso e quando te roubem o pagues mais do que o necesario, oh well,  como diria o meu Pai... "a vida é injusta".

manha

6 da manhã



Os dias aquí começam cedo. Pelo menos para mim. A luz entra pela janela do dormitorio barato às 6 da manha. Que bucólico. Mas, na verdade, isso só acontece quando há janelas. Quando a minha casa é um pequeno bunker, o despertador em infrasons faz o o papel dos raios de sol.
Às 6 da manha os vietnamitas fazem Tai Chi pelos parques da cidade. Há música e senhoras a dançar com os seus leques. Dançar? Ou deveria dizer lutar?


Combinado com esta melodía há um boletín de radio que se ouve pelos altavozes das cidades. Propaganda governamental?, perguntei um dia. Não, responderam-me, são mesmo as noticias. Ya. So se esqueceram de mencionar que no Vietnam todos os meios de comunicação são públicos. Que os jornalistas trabalham para o governo e que é proibido por lei criticá-lo. 


Às seis da manhã, depois das noticias, há silêncio. Esse silêncio barulhento de quando os dias estão a começar. Ouvem-se as primeiras vozes a chegar ao morning market, a vassoura de ráfia a varrer o chão onde os sapatos estão proibidos, as scooters a fazer os primeiros “pipipi” da jornada. Ainda não faz calor e isso é raro. Rarissimo. Também não há estrangeiros com quem conversar. A quem contar intermináveis batalhas. De quem ouvir historias eternas sobre viageiros intrépidos. Às seis da manhã os meus prezados companheiros de aventura, dormem. E eu agradeço. Agredeço um momento de silencio no meio de dias tão completos e intensos. 
Porque aquí os dias cansam. E muito. Regateamos tudo, por exemplo. Constantemente. Até a comida. Não queremos ser enganados. Somos viajeiros experientes, não turistas, dizem os meus companheiros. E viajar, neste caso, é um trabalho. A nossa labor é cada dia conseguir gastar menos e, ao mesmo tempo, disfrutar mais. Escolher o melhor sitio a onde ir, o melhor restaurante e melhor experiencia. Fugir dos selfie sticks e dos party travelers. Entender como vivem os locais mas sem deixar-se enganar. Tarefa complexa. 



Estamos sempre alerta. Com o dinheiro dividido em três carteiras,  os lockers bem fechados e a mochila virada para a frente. Conferimos o troco e as notas do multibanco. Há quem, inclusive, tire fotos. “Uma vez tentaram trocar um nota minha por uma falsa”, conta o viajante que tem o telemóvel cheio de fotografias de códigos de barra e números de serie. 
Viajar é um negocio maravilhoso e ruinoso.
E é por isso que aprendí a gostar tanto das manhãs. Essas horas do dia nas que ainda não há maldade. Quando ainda não começou o regateio constante. El tira y afloja. Faz a mochila, fecha o cadeado, confere o passaporte, conta o dinheiro, faz um planning para o dia, procura onde comer, faz amigos, bebe, desfaz-te daqueles que não te interessam, deixa-te enganar e aprende. 
Às 6 da manhã é o meu momento para processar. 

E assimilar.

A Vivu


Naquele día, às 4 da manhã, a Vivu foi a minha salvação. Eu descia do autocarro em estado zombi. Com os olhos cheios de ramela, cabelo despenteado, dores nas pernas e uma t-shirt térmica. Passei do frio polar ao calor tropical, dos sonhos à dura realidade. O meu autocarro tinha chegado antes da hora prevista. Eram as 4am, noite ferrada, e eu, sem hostel nem taxi, estava perdida.
Ela começou a falar-me num inglês, naquele momento, imperceptível.  "Trekking?", perguntou.
E eu só pensava em dormir. Em dormir ou em acordar. Tanto fazia.
"Preciso de um minuto", disse-lhe. Ela respeitou.
Eu chegava às montanhas do Vietnam à procura de uma historia. A das h'mong. Um grupo étnico minoritario, feminista, que descobriu no turismo uma saída. "Es h'mong?", perguntei. "Sim, Black H'mong Tao", respondeu, apontando para o pente que levava no cabelo. Ela era a minha historia.


Comecei a procesar a informação enquanto a Vivu me falava da caminhada que faríamos, da comida, da sua casa, da sua familia e da vila onde vivia. Mostrou-me um mapa e um caderno com dedicatorias de turistas. Olhei para as datas. Setembro de 2015. "Amazing trekking", "Confiable al 100%", eram alguns dos comentarios. 
Eu desconfiava, claro, por supuesto. Estava sozinha na montanha às 4 da manhã. A Vivu não insistiu. Disse-me que podia dormir na sua casa até que fosse de dia. As filhas dela iam adorar-me, assegurou. "Quero que aprendam inglês". Aceitei. Afinal, essa era a minha historia.


Foi assim que eu conheci a Vivu. 28 años. Casada, 2 filhas (1 e 4 anos). Cresceu a vestir saias rodadas e coloridas. Umas meias e veludo e um pente no cabelo. Uma roupa muito quente para estes verões tropicais. "Preferimos suar no verão que passar frio no inverno", justifica. Ter duas roupas diferentes não é uma opção. "Fazemos uma roupa nova por ano. Estreamo-la no dia de ano novo", conta.


Com 15 anos tiraram-na da escola, mas na verdade nunca estudou muito. Passava os dias a costurar e a ajudar os pais com as plantações de arroz. Fui "lazy", diz. Mas agora arrepende-se. Queria saber ler e escrever em inglés para entender o que os seus clientes dizem dela naquele caderninho que a acompanha a todas as partes. Mas só sabe falar. "Quando comecei a trabalhar com turistas só conhecia umas 30 palavras", diz. Agora fala de forma fluida,  com expressões decoradas e frases feitas. Asegura que os turistas salvaram a vida da sua aldeia. Antes não tinham dinheiro, só comida e animais. Agora descobriram os tenis nike, os telemóveis e as scooters. "Somos nós, as mulheres, que trazemos o dinheiro. Aprendemos inglês e não temos preguiça para caminhar. Os homens são muito lazy", explica no seu inglés que não sabe de gramática. O seu marido também é "lazy". É ele que fica em casa com as filhas enquanto a Vivu entretém os turistas. "Na verdade passa os dias a ver TV", confessa.

Trabalha, orgulhosamente, por conta propria. Ja recusou a oferta de varias empresas de tours turisticos. Assim ela ganha uns 250 euros ao mês. Depende. "Há dias que não tenho clientes e outros que consigo grupos grandes". Não cobra pela sua visita, cada um paga o que pode. "Se não podem pagar, não me importo. Assim pelo menos conhecem a minha historia e a da minha vila". Com o seu salario a Vivu sustenta o marido, as filhas e a mãe. Compram galinhas, plantam arroz e usam o leite da cabra.  Diz ela que não precisam de mais nada para ser felizes. 


Pipipi

Esto es Hanoi. La ciudad del ruido, de las tiendas, de la comida callejera y de los claxon.
Pipipipi.
Aquí pitan para hacerse oír y hacerse ver. Pitan para avisar que llegan, que se van, que cruzan o que vienen.
Pipipipipi. Me monto en una moto y mi motorista se salta un semáforo en rojo. Pipi. Yo cierro los ojos y él esquiva a los demás cómo si la vida fuera un videojuego.
Pipipi. Las aceras están tan llenas que no hay espacio para caminar. Hay restaurantes improvisados y gente y más gente de cuclillas. Postura incómoda. La acera es suya. De los vendedores, los vagos, los cocineros y los buscavidas.
Pipipi. Los "listos" intentan cobrarte de más por cada viaje en coche, en moto, en taxi o en tuctuc. Pero no solo. Te preguntan de dónde vienes. Dicen que solo quieren practicar inglés. No contestas. Insisten. No son timadores, argumentan. Solo quieren hablar.
Pipipi."Quería una botella de agua, por favor". "Son 20 dongs", aclara. "Cómo 20?? - pregunto - Si acabo de ver una señora pagando 10...". "Pero tu eres turista", me contesta. 
Y el turista ve belleza en todo. Hasta cuando te timan. O cuando hay basura en el suelo. "Una ciudad decadente", describen unos. "Con ritmo propio", añaden otros. La ciudad del caos, de las multitudes y del amontonamiento. De las falsificaciones y la comida callejera. 
Pipipipipipipi. 
Laos

O país puro



Em Laos o tempo passa devagar. Slowly. Não há pressas nem horarios. Há sempre um momento para descansar na rede ou tomar uma Beerlao. Para conversar, jogar às cartas ou ler durante horas. 
- Que fizeste hoje? - pergunto
- Just chill - é a resposta mais habitual.
Porque Laos é um paraíso para o “chilling”. Os hotéis são cabanas à beira rio. Custam 2 ou 3 euros com rede na varanda. Não se paga extra pelas vistas porque aqui sempre há vistas. A montaña é virgem e a estrada, de terra, é uma harmonia de tons de verde.
- Não sabia que havia tantos verdes - disse-me um dia a Daisy.
Com ela estou a viajar há três dias. Falamos de tudo e de nada. Respeitamos os silencios. Ontem surgiu a pergunta:
- Achas que os laosianos são pobres?
Aqui há tempo. Tempo para dissertar durante horas sobre qualquer questão. Como a pobreza, por exemplo. O que é ser pobre?, perguntei. Eles teto. Arroz, bambú e galinhas. Quase sempre uma fonte de agua em cada vila. As crianças brincam às gargalhadas e vestem uniforme para ir ao colegio. São, definitivamente, felizes. Não, não têm internet, telemóvel, agua quente ou colchão na cama. As casas não são de cimento e a higiene é um conceito ambiguo. Mas são pobres? Nós, mochileiras e observadoras, preferimos concluir que são “puros”. 

Laos é, ainda, um país puro. 

5 dias

Em cinco dias tive tudo. Menos um momento de tristeza. Achei que seria na despedida. Essa lagriminha típica do aeroporto. Não foi. Também não foi nas 13 horas de voo, na chegada a uma nova cidade, nos momentos de cansaço, nem depois das noites mal dormidas.
Acordo como uma criança pequena à espera de uma visita de estudo. ¿Para onde irei? ¿Quem serão os meus novos amigos?
Conheço cada dia novas vidas, novas historias. Distraem-me, fascinam-me. Sinto que posso estar horas infinitas a falar com desconhecidos. Quero saber. Pergunto sobre a política do Obama, a "democracia" da China, a segurança na Tanzania, as eleições na Argentina e o francês do Canadá. Bebemos uma Chang o uma Beer Lao. Comemos arroz e noodles. Explosão de carbohidratos.
Gosto dos momentos mais solitarios. Escrevo, faço da cámara a minha melhor amiga. Edito, leio e até já vi a trilogia do Padrinho. Já passaram 5 dias. 5 maravilhosos dias.

Não te enganes

Aqui nada é o que parece. As prostitutas são homens, os tuk tuk enrolam-te, os templos "estão fechados" todos os dias, a comida de rua é boa!, a vida não é tão barata e os turistas não são tantos como parecem. Aqui chove de noite e há agua gratis nos templos. Só os estrangeiros pagam para entrar nos monumentos. E quando te dizem "ping pong", cuidado. Não é um jogo, é um strip club.
Na Tailandia há monges a fazer turismo, crianças que querem tirar fotos contigo ("photooo!"), um tránsito como o de São Paulo e massagistas que te deixam com dores musculares. Há ananás, manga e água de coco por 50 céntimos. Há espetos de insectos e sumos de romã. Come-se pouco. E sempre.
Um autocarro normal custa 5 céntimos. Um autocarro turístico sai-te a 1,50. Um roubo!
Aqui regateamos, caminhamos para evitar os tuk tuk, andamos de "barco público" e quando chove "é só esperar meia hora". Viver em Bangkok é fácil. E apaixonante. Sempre encontras um amigo para beber uma Chang, uma sombra para descansar o algum motivo para tirar uma foto. Ou 10. Ou 20. Mas cuidado. Não te enganes. Para viver en Bangkok é preciso ser esperto.

Rompe silencios

"Oh, tu es extrovertida, não vais ter problema", disseram-me antes de sair de casa. E tudo parece bonito até que.
Até que saímos pela porta em silencio e em silencio chegamos à outra ponta do mundo. Discutimos com um motorista ladrão mas depois não o contamos a ninguém. Fazemos o check-in e passamos o dia entre templo e templo. Vemos uns turistas, arriscamos uns comentarios. Sem sucesso.
Passaram12 horas e não há ninguém com quem tomar uma cerveja. A isso eu chamo fracasso.
Até que escuto:
- ¿Sabes como chegar a Kao San?
(falou comigo é meu amigo). Lixaram-se. Ganharam companhia para o jantar, a cerveja, as compras e o cocktail. Assim foi como eu conheci a Silvia e o Mauro. A "gorda" e o "maurito". Ela catalana (pro-independencia) ele argentino (anti-kirchner).
Foram os meus primeiros amigos.
Com eles conheci o PadThai, a Chang e a Kao San Road. Combinamos ver-nos dois dias depois. "Me dejaron tirada". No pasa nada.
E não faz mal porque em poucas horas apareceram o Mike e a Mary. Convenci-os a ver uma luta de Muay Thai. Ele queria, ela não. Eu não insisti muito mas na verdade precisava do seu mapa para conseguir chegar. E como passámos da amizade por interesse às private jokes em só 10 horas? Misterios da vida mochileira.
O Mike e a Mary estavam a viajar há mais de 4 meses e a Liz e o Roberto ( a "baby" e o "amor") vão daqui a dois dias para a Australia fazer mergulho. Conversámos, andamos de bicicleta, comemos por menos de 20 céntimos, sempre a falar. Na rua, no templo, na minivan, no metro e no mercado. Sim, também fomos ao mercado.
Acabo os dias cansada, exausta. Com un nó mental de varias língua e com o medo que a viagem passe tão rápido como estes dias. Dá para congelar o tempo?


dia

Cada dia, um segundo



Foi no dia 10 de julho que eu soube que finalmente e oficialmente eu usaria o meu colchão da felicidade.
Desde então não tiro o sorriso da cara. Têm sido dias de carinho e despedidas. Dias sem horas nem correrias para fazer tudo aquilo que dizia "não ter tempo".
Neste últimos dois meses tive tempo. Tempo para despedir-me de V Televisión, para pedalar 900km  na Alemanha, para ser a madrinha mais babada do mundo, para fazer desporto, cremes hidratantes e comida saudável. Tive tempo para cozinhar, rir e abraçar. Passaram dois meses e eu gravei um segundo de cada dia que passou. Dias felizes.
E vou continuar. Um segundo cada dia durante 6 meses. Já passaram dois.
despedida

"Zero dramas, siempre smile"

Uma mochila com 4 t-shirts e dois calções. Quilos de chá, uma lonely planet, frascos pequeninos, hidratante-de-coisas-boas, um computador, 2 telemóveis, uma máquina fotográfica y um livro electrónico.
Essa vai ser a minha casa durante dois meses.
"Diverte-te", soltam todos na hora da despedida."Vai com cuidado", dizem os amigos. "Leva um casaco", arriscam os que não podem evitar a veia mais paternal, "não faças loucuras", dizem os que mais me conhecem, "concentra-te", aconselha-me ele.
E eu respondo sempre: "vou tentar". Não prometo nada. Nem sequer diversão. Tenho um plano A para os dias que correrem mal, um plano B para noites solitarias, um plano C para momentos mais parados y um plano D se, de repente, tudo sair ao contrario.
Vou tentar.
Sem pressões, sem stress, sem "tenho de chegar". No meu ritmo. Um ritmo que não sei muito bem qual é. Serei dos que querem estar "sempre em movimento"? Dos que preferem praia, relax e desconexão? Aproveitarei para dormir muito ou serei a primeira a dizer "bom dia"? Não sei e, na verdade, quero lá saber.
Como me disseram neste últimos días: "Zero dramas, siempre smile". Ese será o meu lema. (que profundo).
colchao

O colchão da felicidade (finalmente)

Desde que comecei a trabalhar tenho esse sonho. O sonho de usar o meu "colchão da felicidade". Falo disso há anos. Precisamente há 8 anos. Tive fases: achei que nunca teria coragem, ameacei com um "é já hoje, amanhã não volto", quis deixar tudo e também quis trabalhar para sempre e mudar o mundo cada dia. A ideia, umas vezes negada e outras adorada, cresceu comigo. Tornámo-nos mais sensatas, mais flexíveis. Até que houve um dia. O dia.
O dia em que decidi que tinha chegado o meu momento. O momento de tornar real o famoso colchão. Foi no dia 10 de julho de 2015. O dia em que a minha empresa alinhou no meu sonho mais sonhado.
6 meses sem trabalhar. 6 meses dedicando as 24 horas do dia a mim.
"Cuidado que passa rápido", avisaram-me sabiamente.
Estou a ter cuidado, prometo, mas os segundos não param de passar.

autocarro

E tu? Quantas horas dormes?

De segunda a quinta-feira passo fora do trabalho 10 horas por dia (8 delas a dormir). A conta é fácil. De segunda a quinta-feira passo duas horas por dia em casa acordada. Duas. Horas. Nessas duas horas diárias tomo o pequeno-almoço, faço exercício, leio as noticias, tomo banho e, às vezes, dá tempo para ter dois dedos de conversa. 
De segunda a quinta a minha casa é o trabalho. Mas eu recuso-me. Nunca chamarei a empresa de "casa". Não tenho decoração na minha mesa, nem um armário tipo despensa. Atuo como se cada dia fosse só esse dia. "Oh não, hoje vou trabalhar 13 horas". Penso, em casa jornada, como se fosse uma coisa excecional.
É a minha forma de lidar com O problema. Assim, com O maiúsculo. O senhor do do autocarro perguntou-me outro dia quantas horas costumava dormir. Pergunta indiscreta, pensei, e ele completou a frase: "É que ontem vi-te na televisão e já passava da meia-noite. E agora (11 da manha) já estas a ir para o trabalho... ¿Quantas horas dormes?". Respondi-lhe que preferia não contar horas mas (sempre tento jogar essa carta) que à sexta-feira não trabalhava: "Ah, menina, mas acho que isso não compensa", respondeu.
E eu calei-me.



desabafo

A geração sem tempo

Somos o mundo do fast food. De jantar em frente ao computador. De inscrever-se no ginásio em Janeiro e de deixar de ir em Fevereiro. Somos o mundo dos queixinhas. Dos pouco realizados. Dos sindicalistas medrosos. Daqueles que começam a correr, compram roupa, tenis y fones de ouvido, tiram 5 fotos para o instagram e depois vem a chuva e acabou-se. Somos dos que começam a dieta "amanhã sem falta", dos que chegam a casa e uma vez por ano anunciam que vão deixar o trabalho e viajar pelo mundo. Nunca o fazemos. Somos escravos do salário ao fim do mês. Covardes. Uma geração de incompreendidos. Somos do tempo dos que começam o jornal ao contrario, dos que leem os livros de diálogo em diálogo, saltando as descrições. Aprendemos skimming e scanning só para não perder tanto tempo. Estudamos línguas e depois esquecemo-las. Não cumprimos compromissos. Não sabemos batalhar. Nunca temos tempo.
Fomos enganados. Nunca nos disseram que a vida era uma batalha constante entre o relógio, as ambições e os fracassos.

cartão

Perdi tudo.

Primeiro foi o banco. Fechar a conta? Só se vier pessoalmente. "Mas a filial mais próxima está a 500 kilomentros".  Ah, que pena, respondem. Não há outra opção.
Bancos. Detesto-os com todas as minhas forças.
E então lá viajei os tais 500 kilometros para recuperar o meu dinheiro. Reclamação, queixa formal e, finalmente, dinheiro recuperado.
Aproveitando a viagem fomos visitar uns amigos. "Ai, que saudades, quanto tempo!", comprámos os bilhetes, vamos para o autocarro, blablabla durante quase duas horas. E chegámos ao meio do monte. Uma vida entre hortas, conversas e passeios. E antes de tomar umas cañas vou buscar a carteira. Onde está? Desfaz a mochila, desfaz a bolsa, desfaz a cama. Nada.
Perdi a carteira. Aquela carteira que tinha todo o dinheiro pelo qual tinha viajado 500 kilometros. Essa mesmo.
E então o drama começa a rodear aquele fim de semana perfeito. Faço contas de quantos dias de trabalho (e de stress) precisei para ganhar aquelas notas perdidas. Penso nos documentos e na dificuldade de ser uma "cidadã do mundo". Começo as buscas na internet. ¿Segunda via da carta de condução? 20 euros. ¿Segunda via do cartão da segurança social? 20 euros.  ¿Segunda via da residencia? 20 euros. ¿Segunda via do cartão de identidade? 200 euros para ir a Portugal e 20 euros para renovar o documento.
Penso no meu cartão internacional de jornalista, no meu eterno cartão de estudante, no desconto do ginasio e no cartão da empresa. E chego à conclusão que perdi tudo.  Sou pobre e indocumentada.
Com a volta à cidade e à rotina tudo parecia ainda mais negro. Até que o telefone tocou.
"Encontramos a sua carteira". Como? O que? Belisca, belisca. Com todos os documentos?, pergunto. Com documentos e muito dinheiro, respondem.
Agredeci.
Já devolvi muitas vezes na minha vida carteiras com dinheiro, mas nunca pensei que isso aconteceria comigo. Desde então voltei a ter fé na humanidade.

breakingbad

Not quite my tempo

Nunca ninguém me tinha dito como as decisões são definitivas. Como naquela cena de Fargo em que Malvo pergunta: "Tens a certeza que é isto que queres? Sim ou não?". E nessa fracção de minuto estamos a escrever o nosso futuro. "Sim", responde Lester cheio de atitude e BUM! Todos mortos.
Tantas vezes quis ter mais tempo para pensar se estava a fazer o correto. Buscar um pouco de perspectiva. "Say my name", diria Heisenberg. Quis repetir uma e outra vez esse nome, essa decisão. Nao tive tempo. 
E assim, com pressa e a correr, entre o almoço e o cabeleireiro, fazemos escolhas que mudam o nosso rumbo. Aceitamos e rejeitamos trabalhos, beijamos aquele desconhecido, tomamos "só mais uma", dizemos um "temos que falar" e tudo muda, dramatizamos, começamos historias de amor. Perdemos amigos.

covarde

E se...?

Há anos que dizes "eu queria era abrir um negocio meu". Ser a minha propia chefe e blablabla. E então a ideia ganha força e perguntas "e se...?".
Mas és medrosa. Covarde. Sempre foste. Precisas de alguém que te motive, que cada dia te diga: "essa é uma grande ideia", senão a ideia morre e fica num "e se...".
O "e se..." é sempre bonito nas nossas cabeças. Serve para passar semanas a sonhar com o nosso negocio de sucesso. "Tenho a certeza que funcionaria", dizes. E já está. Depois vais para casa e no dia seguinte queixas-te por ter de ir trabalhar.
Mas não queres ser assim. Nunca quiseste ser como eles. ¿Lembras-te de quando querias mudar o mundo?
E se algum dia deixas de ser covarde? E se...?
casacheia

Casa cheia

Eu, na verdade, nunca tinha sonhado com isso. Com uma casa cheia. Nunca quis fazer filmes, documentários ou grandes projeções. O que eu queria era mudar o mundo.
Mas agora entendo que para mudar o mundo temos, primeiro, que conquistar. E para conquistar precisamos de leitores, espectadores, um clube de fans se for possível.
E foi por isso que quando chegámos ali, naquela sala de cinema vazia, no meio de uma tempestade, eu pensei: "no vamos a llenar". E, de repente, a casa cheia passou a ser importante. ¿De que serve fazer um trabalho se ninguém o vai ver? ¿De que serve vender DVDs se ninguém compra?
Tentei entrar em paz com a ideia: "Se não vem ninguém, não tenho porque estar nervosa". E os nervos passaram. Vamos ser os de sempre, eu direi o que penso e já está.
Começam a chegar as primeiras mensagens: "Estou na fila, quando abrem as portas?"
Fila? Fila? Há fila para ver o nosso documentario?
Havia. E era grande (tinha de ter tirado uma foto).
Abrimos as portas e as pessoas não paravam de entrar. Beijos para aqui, beijos para ali, "espero que os guste", "¿Vais apresentar o projecto?", "Sim, vai ser um discurso breve".
"Vim porque vi a noticia no jornal", disse uma.
"Vejo-te todos os dias na televisão", disse outro.
"Não podia deixar de vir", disseram varios.
E, de repente escuto: "¿Viste? A casa está cheia". Contámos os lugares vazios. Tres. Só havia tres lugares vazios.
E eu falei. Mexi muito as mãos como faço quando estou nervosa. Mas a minha voz não tremeu. Afinal trabalhar nisto serve para alguma coisa.
O documentario começou, mas eu não prestei muita atenção. Memorizava os comentarios, os risos, as exclamações. Anotava mentalmente os pontos altos e baixos. Fazia un "dafo" sobre la marcha.
No meio disto chegavam mensagens: "Ficámos lá fora. O cinema está lotado e já não pudemos entrar". E eu senti uma mistura de pena e satisfação. "Vais ter de comprar o DVD", respondi.
E quando chegaram os aplausos, relaxei.
Agradeci, agradeci muito. E tirei uma foto para nunca me esquecer da minha primeira estreia. Uma estreia com casa cheia.

documental

I ante aquel silencio mudo

Foi o nosso filho durante tanto tempo. Seis meses. Talvez mais. Primeiro era só uma idea "o que podíamos fazer era....", "tínhamos que propor....", "sería fixe se...". Conversa de almoço e jantar nesta casa arrumada tão desarrumada.
Um verbo no condicional que se materializou em reuniões e reuniões. Até que houve um dia que nos disseram "sim". Saltámos de felicidade e ao mesmo pensámos: "ui, ui, ui, isto vai dar tanto trabalho". E deu.
Mas era um trabalho nosso. Sem chefes. Sem caras feias. Podíamos não fazer tudo o que criticamos no nosso dia a dia. Não queríamos ser como eles e não fomos.
"¿Hey, queres tomar uma caña esta noite?", "Uf, nao posso, tenho que trabalhar en el docu". E lá fora fazia sol e nós em casa, a trabalhar e trabalhar.
Seis meses. Seis meses e o filho nasceu. Fomos comemorar, brindámos e contámos aos amigos. Mas foi um nascimento discreto. "A estreia será lá para Janeiro", dizíamos.
E lá para janeiro chegou. "Então quando é a projecção?". "É lá para o fim do mês", respondíamos. E lá para o fim do mês, também chegou.
Lá para o fim do mês é amanha e estou em plena campanha de promoção.  Passei de entrevistadora a entrevistada e não sei como reagir. Respondo pensando como faria eu a entrevista. Digo frases consciente de que seriam bons títulos. Proponho formatos de reportagem, ideias para fotografias... "Entrevistar jornalistas é um prazer", dizem-me. Mas eu estou mais cómoda do outro lado.




"I ante aquel silencio mudo", nós resolvemos falar.
desenfoque

Enquanto chove lá fora...

... e já vão 8 días seguidos de temporal, nós aproveitamos a vida indoors.





Mais fotos d'ele, aqui.
amor

Para sempre

Vocês que estão casados e têm filhos. Vocês que disseram "sim quero". Vocês que compraram uma casa. Vocês que puseram um anel no dedo. Vocês que choraram quando viram o teste de gravidez. Vocês que celebraram o primeiro, o segundo e o terceiro aniversario. 
Vocês, se me estão a ler, ajudem-me.
Eu não sei conjugar o verbo Para Sempre.
Eu para sempre.
Tu para sempre.
Vocês para sempre.
Nós para sempre.
Não sei. Nunca aprendi, nunca precisei e essa ideia me dá calafrios. Para Sempre? Sem possibilidade de dizer, "vá, já estou farta, paremos com isto", "não está a funcionar é melhor que cada um siga a sua vida", "já não gosto dele", "acabou-se o amor". Essa falta de liberdade assusta-me. Um compromisso eterno? Porque é que tenho que decidir já? Não posso experimentar mais? Não posso trocar se não gostar? As minhas mãos suam e tenho tremeliques nos olhos. 
Mas, de repente, há três dias, sem nenhum aviso prévio perguntaram-me "Para Sempre?". E eu fiquei nervosa, muito nervosa. Tirei o casaco, entraram-me os calores, fiquei toda vermelha. Eu? Para Sempre? Sim, ¡Claro que sim! (mas não sei fazer isso... "não te preocupes, nada vai mudar"). 
E desde então tento gerir essa noticia.
Eu. Serei. Madrinha. M-a-d-r-i-n-h-a. Para sempre na vida desse feijãozinho que vi crescer e que até já me fez chorar. Esse feijãozinho que passou de "baby" a "baby Girl" e agora já tem nome composto e apelido. Nuria Maria Conde Rodrigues. Tu e eu. Para Sempre. 
amar

O amor romántico

Conheço muita gente que deixou tudo por amor. Que apostou tudo no amor. Que o viu um dia a passear na rua e disse “é ele” e não descansou até conseguir. Que sempre souberam. Que nunca duvidaram. Que sentiram a flecha. Que foram (ou dizem ser) felizes para sempre. 
E é aí onde eu entro.
Eu não acredito nesse amor. Nesse amor romántico-flechazo-cupido-primeiravista-onlyone.
Chamem-me qualquer coisa, insultem-me: Insensível, amarga, coração de pedra, you name it. Já estou habituada.
Há uma vida que falo deste tema. E já ouvi de tudo: desde “um dia você vai sentir”,  a “como podes dizer isso com ele ao teu lado”, às profundas discussões da esplanada amarela ou propostas indecentes em noites de cerveja e chupitos.

Mas há uns días saquei, outra vez, o tema e ele disse-me: “Tranquila, tu es normal. Os outros é que são uns mentirosos”. E o meu coração fez click.

Diario sem açúcar #2

Gomas
Bolachas
Bolo
Chocolate
Iogurte de baunilha
Crepe con Nutella
Morangos con leite condensado
Mouse de limão
Doce de leite.
Tenho fome.
E não, não serve comer uma tosta mista.
directo

3, 2, 1…

Decides o que vais dizer. Perguntas a opinião de um e de outro. Até fazes umas chamadas. Anotas os pontos mais importantes. Ensaias. ¿O que é que achas se digo isto? Todos acham bem, está ótimo. Tudo vai dar certo. 
E então chega o momento. 3, 2, 1 e é a realidade. Agora qualquer passo em falso, qualquer palavra mal pronunciada, qualquer sorriso ou não-sorriso pode ser mal interpretado. Não importa as vezes que tenhas ensaiado, o que querías ter dito. O que fizeres ou disseres terá as suas consequências. Tudo está nas tuas mãos. 
3, 2, 1, dentro. Dentro significa que já não há volta atrás. Que aquela frase perfeitinha e articulada que tinhas pensado dizer, vai sair esquisita e balbuciante, mas tens de “tirar para adelante”. Dentro significa que tens de olhar para a luz vermelha e confiar no teu subconsciente, que ele forme bem as palavras e as frases, que não saia do guião e que não faça nenhum comentario que depois será viral. Olhar para a luz vermelha e confiar. Não há “corta”, não há quero repetir, não há podia ter feito melhor. 
Cada noite sinto que o meu trabalho é uma metáfora da vida. 
domingo

Quando sai o sol #2




Este foi o resultado daquela tarde de sol de domingo. Eu dediquei-me a tirar fotos..








(https://www.flickr.com/photos/37952891@N02/)


E ele registrou o momento en video. 


Tarde de domingo from Millán Castro on Vimeo.

Hoje já chegou a ciclogenesis explosiva. Eu bem disse que valia a pena aproveitar o sol.
frio

Quando sai o sol


Neste país onde eu moro (e que ninguém ache que a Galiza e algo menos que um país), faz mau tempo. Pronto. Temos de assumir a realidade. No inverno passado choveu durante 43 dias seguidos. E no verão fui à praia 3 vezes (e eu moro em frente). Portanto isto é inevitável. Já vivo aqui há 6 anos (!!!) e cada vez mais acontece-me isto:

Planos para o domingo: pequeno almoço com sumo de laranja, ir ao ginásio, almocinho gostoso, escrever 2 artigos atrasados para o jornal, mandar alguns emails, ver True Detective e preparar um documento para uma apresentação desta semana. 
O que aconteceu na realidade: abri um olho, pareceu que estava sol, não acreditei e continuei a dormir. Ele levanta-se abre a janela. Voltei a abrir o olho: ¿Hace sol?. “Síiiiii!”. Então levanta da cama já em manga curta, bicicleta, ginásio, ler o jornal na esplanada, voltar, pôr música, abrir as janelas, sair outra vez, levar a cámara, comentar “quanta gente na rua!” (tu incluida), tirar dezenas de fotos, aproveitar o contraluz, ficar até ao pôr do sol, voltar de noite e aperceber-se que não fizemos nada do que tínhamos pensado para este domingo. 

Mas viver na Galiza é isto: quando sai o sal, deixamos tudo e vamos passar o dia com ele. Porque ninguém sabe quando ele voltará a visitar-nos.
açucar

Diario sem açúcar #1

Há 3 dias e meio que não como açúcar. Três-dias-e-meio. Ok. Para vocês pareceu “una tontería”. Mas não é. Tres dias e meio sem que nenhuma gota de açúcar refinado entre no meu organismo é uma eternidade. Acreditem. 
Neste tempo já recusei bolo rei, churros, iogurte (“Mas é 0%”, disseram-me.), Coca-cola (açúcar com gas) e um gelado (“Mas é de limão”, insistiram). Sou praticamente uma heroína.
É um desafio anual que faço comigo mesma há pelo menos 10 anos. Primeiro repenso todos os meus vícios (não tenho tantos), escolho um e tiro-o da minha vida. Masoquismo, dirão alguns. Disciplina, digo eu. 
Faço-o porque acredito e gosto da sensação de auto-controlo. Uma vida sem dependencias. O famoso: “eu deixo-o quando quiser” levado à practica. Ja fiz varios sacrificios diferentes: ja fiquei sem comer pão, já usei menos o computador, já tirei só as gomas… Mas para mim o mais difícil é o açúcar. Não porque coma muito, mas porque como poco e sempre. É parte da minha rotina.
Hoje, por exemplo, cheguei a casa e queria beber chá com bolachas. Aqueci a agua, escolhi o chá e pensei…. “E agora o que é que eu como?” Não há nada salgado que combine com chá… Abri o frigorifico e fiquei um tempo a olhar. Nada. Não havia nada que desse certo. Escolhi um frasco “y tiré para adelante”. E assim foi como hoje, pela primeira vez na vida, bebi chá com azeitonas. 

(e ainda só passaram três dias e meio). 
bolorei

La Doble Navidad

Eu chamo-lhe Navidad esquizofrénica. Porque é um Natal que não sabe bem se é Natal ou se é Reis. Que depende. Que mais ou menos. 
- E tu o que celebras? - é a pergunta da praxe em território espanhol nestas datas.
Uma questão que não é tão simples como possa parecer: podes celebrar o Papa Noel ou os Reyes. Mas também podes preferir a Nochebuena, que, ojo, não é o mesmo que a Nochevieja. Podes dar só um “detallito” em Navidad e depois um presente grande em Reis. Mas também existe a modalidade de: “O Pai Natal é uma invenção consumista americana, ¡Morte aos capitalistas!”. E então em Nochebuena só há um jantar em família, sem direito a abraços de Feliz Natal (¡esse feriado católico sem sentido!). E eu passo a noite a olhar o relógio e digo: “Já é meia noite!! Feliz Natal!!” E ficam todos a olhar para mim com cara de: “é muito estranha esta rapariga”. 
¡Qual Feliz Natal qual que! Aqui o que celebramos é os Reis só que damos o presente no Natal para que as crianças possam brincar durante as férias. Claro que as crianças também são meio esquizofrénicas porque não sabem a quem escrever a carta. É que há diferenças: a do Pai Natal colocas na bota e no dia 24 à noite tens de deixar-lhe leite e bolachas. Mas os reis demoram um pouco mais a chegar e vêm com um camelo, então há que deixar-lhes agua, porque esses camelos vêm do deserto e ali há seca. 
A nochebuena celebra-se depois do jantar, mas os Reyes são de manhã. Porque na noite antes todo o espanhol que se preste sai à rua para ver a “cabalgata”. “Qué vienen los reyes, qué vienen los reyes¡”.  Crianças histéricas a gritar e um desfile em cada cidade como os de carnaval. Porque, claro, só há três reis magos, mas chegam todos ao mesmo tempo a todas as cidades do país. Estamos a princípios de Janeiro, 5 graus lá fora, e crianças munidas de gorros, luvas, cachecóis e casacos polares a gritar. A gritar e a levar com caramelos na cabeça. Porque é isso que os reis fazem quando chegam à cidade. Atiram rebuçados para a cabeça dos meninos. Então esse é o dia oficial dos dentes saudáveis. As crianças comem rebuçados e os adultos roscón de reyes. O bolo rei. Filas quilométricas para comprar o melhor da cidade, porque a receita é difícil. Toda a televisão ou radio que se preste está há 5 dias a dar receitas, truques e a insistir que não é complicado de fazer. Mas é. Dá trabalho, incluí anís, frutas caramelizadas e “manteca de vaca”. Não, é melhor comprar. E então os jornalistas vão fazer reportagens às filas das pastelarias. Um clássico. E no bolo rei há um bonequinho de chumbo, que, va, pelo menos tem alguma utilidade. Dá para brincar. Mas aqui o tão aclamado roscón tem uma “haba”. Nada mais, nada menos que uma fava. ¡Que emoção, me tocó a fava!”. E aos doces unimos os segundos presentes. Ou detallitos. Depende da família. Mas na verdade, toda a gente está é a espera do dia 7. Porque no dia 7 empiezan las rebajas.

Bem-vindos

Já não sou aquela menina de 2008. Aquela que confundia “tela” com “quadro”, “hasta luego” con “hasta ahora” ou “espantoso” con “espetacular”. Já não sou a de 2009. Tão crítica com a Espanha e tão apaixonada pelo jornalismo. Também estou longe da de 2010 que decidiu por instinto, sabia que errava e errou. 
Ou a de 2011, tão decepcionada com a especie humana. Nem de 2012 que acabou desistindo. 
A de 2013 vocês não conheceram, mas eu posso descrever a de 2014.


Ela fala para um portunhol que é uma maravilha. Adora viajar. Está mais adulta, menos sonhadora, talvez. Se conecta de segunda a quinta e é feliz de fim de semana. Busca um espaço para desahogarse. Mas, AVISO. Este blog não será nem em português (com o sem acordo ortográfico), nem em español. Qualquer dúvida, é só perguntar. Bem-vindos. 

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