Casa cheia

1.2.15

Eu, na verdade, nunca tinha sonhado com isso. Com uma casa cheia. Nunca quis fazer filmes, documentários ou grandes projeções. O que eu queria era mudar o mundo.
Mas agora entendo que para mudar o mundo temos, primeiro, que conquistar. E para conquistar precisamos de leitores, espectadores, um clube de fans se for possível.
E foi por isso que quando chegámos ali, naquela sala de cinema vazia, no meio de uma tempestade, eu pensei: "no vamos a llenar". E, de repente, a casa cheia passou a ser importante. ¿De que serve fazer um trabalho se ninguém o vai ver? ¿De que serve vender DVDs se ninguém compra?
Tentei entrar em paz com a ideia: "Se não vem ninguém, não tenho porque estar nervosa". E os nervos passaram. Vamos ser os de sempre, eu direi o que penso e já está.
Começam a chegar as primeiras mensagens: "Estou na fila, quando abrem as portas?"
Fila? Fila? Há fila para ver o nosso documentario?
Havia. E era grande (tinha de ter tirado uma foto).
Abrimos as portas e as pessoas não paravam de entrar. Beijos para aqui, beijos para ali, "espero que os guste", "¿Vais apresentar o projecto?", "Sim, vai ser um discurso breve".
"Vim porque vi a noticia no jornal", disse uma.
"Vejo-te todos os dias na televisão", disse outro.
"Não podia deixar de vir", disseram varios.
E, de repente escuto: "¿Viste? A casa está cheia". Contámos os lugares vazios. Tres. Só havia tres lugares vazios.
E eu falei. Mexi muito as mãos como faço quando estou nervosa. Mas a minha voz não tremeu. Afinal trabalhar nisto serve para alguma coisa.
O documentario começou, mas eu não prestei muita atenção. Memorizava os comentarios, os risos, as exclamações. Anotava mentalmente os pontos altos e baixos. Fazia un "dafo" sobre la marcha.
No meio disto chegavam mensagens: "Ficámos lá fora. O cinema está lotado e já não pudemos entrar". E eu senti uma mistura de pena e satisfação. "Vais ter de comprar o DVD", respondi.
E quando chegaram os aplausos, relaxei.
Agradeci, agradeci muito. E tirei uma foto para nunca me esquecer da minha primeira estreia. Uma estreia com casa cheia.

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