Ciclos

A vida é feita delas: montanhas cíclicas tantas vezes difíceis de subir. Ou impossíveis de fechar. Etapas. Momentos.
Às vezes queremos que a vida mude. Desesperadamente.
Mas nada acontece. Ou temos medo de fazer acontecer.
No fundo desejamos um ciclo novo, escalar uma parede de rochas virgens. Mas não temos coragem.
E um dia, chega alguém e te empurra.
Você não queria mudar?
Então agora vai lá e faz acontecer. 

Sexta-feira, 26 de maio, 16.30

O despertador tocou às 7 da manhã. Saí rápido da cama. Nesse dia (estranhamente) não tinha sono. Tomei o meu chá preto e torradas com marmelada de morango. Tudo homemade. Exatamente como eu gosto. Antes de gritar um apressado "tchau, até já" chegou uma alerta no celular: novo episódio de Radiolab. Me despedi feliz e com fones de ouvido. O capítulo era uma homenagem a eles mesmos pelos seus 15 anos de programa. Fui dando gargalhadas no meio da rua. No ônibus o condutor era aquele que sempre põe a rádio alta demais. Na RadioVoz o Pablo Portabales entrevistava o alcalde da cidade. A voz de Xulio Ferreiro se misturava com o genial Radiolab e decidi abandonar o meu querido programa. Não ouvi a entrevista e usei o meu tempo livre para procurar na internet: "qué hace que una canción sea pegadiza". Esse era a minha missão do dia. Cheguei a Sabón Ã s 10h e apressada. Peguei um carro do trabalho, pus a Cadena Ser "a todo volúmen" e ouvi durante uma hora a Gemma Nierga falar sobre Cervantes. Não foi muito interessante. Estamos em pleno mês de maio e na quinta-feira eu tinha ido à praia, mas nesse dia, nessa sexta-feira que nunca mais quero esquecer, chovia muito. Diluviava. E eu precisava chegar rápido a Santiago. Parei no posto para encher o tanque e estacionei debaixo de uma goteira. Saí do carro, encharquei o tênis e tentei por dísel ao invés de gasolina. Quase fiz um estrago. Me atrasei. Eu nunca me atraso. Ao chegar estacionei dentro de uma poça e sujei de barro o meu tênis já molhado. Quando entrei o Marco já tinha começado a entrevista. Fiz as minhas perguntas e as respostas me fizeram feliz. Senti que o meu dia estava melhorando. Só que não. O caminho de volta foi outra vez debaixo de chuva. E nesse momento fiquei menstruada e irritada. Pedi um tampax emprestado. O almoço foi tortilla e pechuga de pollo con pimiento. Comi uma melancia de sobremesa. Rimos muito no comedor. O assunto foi a possível futura namorada do Lois. Ele não gostou do tema. O Abel sentou do meu lado e fez piada o tempo todo. Falei que tinha que voltar rápido para a redação porque tinha que acabar a matéria e sair às 19h para ir pegar a minha amiga turca ao aeroporto. - Mas não precisa ter pressa, você ainda tem 4 horas para fazer a matéria - me disseram. Eu respondi que estava adorando fazer essa reportagem e queria que ficasse boa. A Cris apareceu e pedi uma opinião e ela respondeu: "o que você achar melhor está bom para mim". Estranhei um pouco. Foi às 16.30 que o Abel subiu e perguntou se eu podia sair um minuto. Sai sem carteira nem celular. Sexta-feira, 26 de maio, às 16.30 de um dia de muita chuva no meio de uma semana de sol e praia.Sexta-feira, 26 de maio, às 16.30 no dia em que estava fazendo uma reportagem que "queria que ficasse boa" (outros acabaram essa reportagem por mim e não ficou boa. Ficou péssima). Sexta-feira, 26 de maio, às 16.30 no dia em que uma amiga que não via há 5 anos vinha me visitar Sexta-feira, 26 de maio, às 16.30 no dia em que ia sair do trabalho às 19h e acabei saindo as 17h. Para não voltar.

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