Ramón Gerardo Antonio Estévez



Há países que têm orgulho dos seus monumentos, da sua comida, das suas tradições. Mas este país que é a Galiza tem orgulho do seu povo. Não do povo propriamente dito, esse anónimo trabalhador das 9h as 6h (com pausa de duas horas para almoço), mas do provo que sabe ir, procriar e conceber… famosos.
Tudo começou numa aula de jornalismo online. O professor entra e diz:
- O Fidel Castro morreu, têm 5 minutos para escrever a notícia.
E ele queria mesmo dizer c-i-n-c-o minutos para esta aspirante a periodista escrever a noticia da morte do Fidel.
Toca a ir à wikipedia, encontrar a data de nascimento e de renúncia do poder. Encontrar um título e o tempo já tinha acabado
É então que o professor pergunta:
- Quem se lembrou de escrever que Fidel Castro é galego?
(O factor noticia mais importante, como devem imaginar)
A turma toda levanta a mão entusiasticamente. Menos a Marina, claro.
- Mas o Fidel Castro é Galego?
- Sim, claro.
Porque na Galiza filho de galego, galego é. Diz-me então um amigo:
- Não sabias do Fidel? Mas sabes que o Martin Sheen é galego, certo?
- Como assim? Chama-se Martin Sheen, não pode ser galego!
- Isso é o que tu pensas.
De volta à wikipédia descobri aquela que foi a mais surpreendente revelção de 2008. Então não é que o nosso querido presidente dos Estado Unidos (favor comprar a série inteira de West Wing) é galego? (Bem… filho de pai galego.) Mas o melhor esta para vir. O seu pai nasceu em Parderrubias. Google maps. Fronteira com Portugal.
Então não é que afinal o Mr. President, de nascença Ramón Gerardo Antonio Estévez, é practicamente… português?
Viva o sr. Presiente!

Espanholoportuguês

Liga a Marina a um amigo português que vive na Coruña:

Marina : Olá, olha o que vais fazer hoje à noite?
Amigo Português: Pois… Não sei, porquê?
M: É que quedei com uns amigos para virem jantar cá em casa, não queres vir?
AP: Mas vais dar um jantar, é?
M: Sim, é a nossa cena de inauguração. Depois vamos beber umas canhas.
AP: E vão sair de marcha ou são só umas canhas?
M: Não sei. Mas dá igual porque vamos a pé.
AP: Não levas o carro?
M: Não, porque depois é impossível encontrar aparcamento
AP: Ok. E o teu piso fica em que calhe?
M: Na Cabalho, nº17.
AP: Ok. Então vou sair agora. Até logo

E ainda dizem que isto de “aprender um novo idioma” faz bem à cabeça…

Pâvê

Tenho uma nova teoria. (sim, mais uma)
Acho que o Estado português deveria patrocinar uma estadia de alguns meses em Espanha a todos os seus cidadãos.
Não, caro leitor, não me abandone. Prometo que este post não vai ser um lugar comum do estilo “há que ir para fora para se dar valor ao que se tem cá dentro” e muito menos (tal como a linha editorial deste blog tem vindo a comprovar) um texto de apologia à grande nação espanhola.
Mas a minha teoria baseia-se num tema muito importante sobre o qual os políticos portugueses se têm esquecido de reflectir nos discursos de exaltação à pátria: os fonemas.
Devíamos parar todos um segundo para agradecer ao til e ao acento circunflexo. Compremos presentes aos acentos agudos, aos graves e aos ditongos. Elejamos para prémio Nobel os sons anasalados!
Isto porque me parece que não damos o devido valor à superioridade da nossa língua.
Vejamos o exemplo (um assim aleatório) do espanhol:
Além de confundirem o “hasta luego” com o “hasta logo”, de pronunciarem, indiferentemente, “lháves” ou “jáves” para dizer chaves (mas isso é outro post), têm outro grande senão: o “v” e o “b”.
Claro que poderia contar aqui várias “anedotas” que já se passaram sobre o tema. Mas não percamos o fio a meada, estamos a reflectir sobre a superioridade do nosso português.
O que me chama atenção neste som abrangente e ambíguo do “be” espanhol é que para eles (que não conhecem outro som) esta deficiência da sua língua lhes parece normal e incorrigível.
- Como se diz “voluntad” em português? – me perguntam
- Vontade
- Bontade – repetem
- Não, vvvvontade, com “vvvveeeee”
- Ah, bbbbbbbbontade
- Sim, isso.
E quando já desistia da fonética espanhola, o milagre surgiu:
- Sabes que sei falar português?
- A Sério? Fala lá então.
- Éu falo moito véme portuguêz
- Bbbbbeeemmmm
- Vvvvvvééééémmmmmeeeeeee
- Não, é “b” como Barcelona e como “vino” (leia-se Bino)
- Eu falo moito vvvvvvvvvvvvvem portuguêz
- Sim, isso.
A conversa desconcertou-me. Afinal tinham a capacidade fisiológica de reproduzir o som, apenas não identificavam a diferença. Mas durante um tempo convenci-me de que a minha amiga era uma espécie de sobredotada dos fonemas e que o espanhol "normal" não podia dizer “vê”. Até porque se assim pudesse, porque não o faria?
Até que surgiu um convite para ir a um “pâvê”
- Onde?
- É que há uns “pâvés” muito giros aqui na Coruña
- Isso que me estas a dizer é um “Pub”?
- Sim, foi o que eu disse.
Não vou reproduzir o meu grito que frustração que seguiu esta conversa. Mas queria sim, que parássemos todos um pouco para dar “graças” aos nossos fonemas. E lançar uma petição para que no próximo 25 de Abril eles sejam mencionados no discurso do presidente.

Complexo Top Model

As pessoas engordam porque todos acham que merecem um gelado num dia de Verão.
Hoje estou tão cansada. Estudei tanto, aturei tanta gente cretina, sorri, simpática, ao chefe que ontem me passou a perna. Acho que mereço um saquinho de gomas. Daqueles pequeninos, como os presentes que os nossos pais nos davam quando tínhamos 100% num teste. (Sim, eu tinha disso).
E comemos o saco de gomas (que se vai tornando maior à medida que os dias nos trazem mais responsabilidade) com a culpa cristã de quem mentiu à mãe sobre o 100%. (Era um 96% e eu tinha arredondado. E, sim, mais uma vez: eu tinha disso).
E então começamos a arranjar desculpas para as bolachas recheadas de chocolate (afinal tínhamos ido ao ginásio nesse dia), para o croissant com creme (é que não tenho mesmo mais nada em casa).
E comer transforma-se num labirinto de culpa e desculpas, mentira e auto-enganação.
Então decidimos não comprar mais desses demónios para a nossa casa. Mas oferecem-nos uma bolacha. E por cortesia aceitamos. Uma fatia de bolo. Não há como negar. E até almoçámos um peixinho grelhado hoje. Esta tablete de chocolate não faria mal.

Desculpem.
Vou ter de parar o post por aqui.
Sinto-me a ter um ataque de ansiedade. O complexo top model apodera-se de mim.
Sai da cama, veste-te, corre para o ginásio.
Não saias de lá até queimares as calorias daquelas batatas fritas que comeste ontem. Do bolo de anteontem, do chocolate quente das pipocas das bolachas dos bombons.
Ai, desculpem. Tenho mesmo de ir.

Moleskine, o meu melhor amigo

Em tempos o meu melhor amigo chamou-se Wilson e era uma bola de futebol velha. Depois substitui-o pelo murphy, uma caveira roubada em noite de bruxas. Agora tenho um novo melhor amigo. É preto, tem capa dura e chama-se Moleskine.
Só a ele confesso as minhas eternas dúvidas de espanhol (ah, para que conste: ontem descobri que “hundir” não é fundir, mas afundar. Realmente estava a achar estranho que o Prestige tivesse “fundido”, mas com estes espanhóis nunca se sabe).
Nele anoto aquela frase entreattada, o momento que a minha memória de peixe não pode deixar escapar. Escrevo conjugações verbais completas misturadas com números de telefone. Rabiscos a lápis e sublinhados a vermelho.
E na quinta-feira a tarde a minha professora de espanhol perguntou:
- Não gostaste da aula?
- Gostei sim, porque a pergunta?
- Não tiraste nenhuma vez o teu caderninho preto da mala.
Eu ri-me e inventei uma desculpa qualquer. E, enquanto descia as escadas, saquei do caderninho e rabisquei: Moleskine, o meu melhor amigo

Nós os galegos

Apaixonei-me.
Primeiro pela Ciudad de Cristal, cujo mar faz de mosaico nas janelinhas de moldura branca. Depois pela praia em que sol nasce ao contrário, pelo paredão ventoso, pela torre de centenas de degraus. A paixão é tão fútil.
E assim descobri este “país” em que a “choiva” não é impedimento para o optimismo, em que as refeições são a parte mais importante do dia (yes!), em que no futebol há 50 músicas diferentes para cantar.
E começaram as declarações de amor
O primeiro passo? A mudança de nacionalidade:
-¿Y tú de donde eres? – perguntam-me com o interesse exótico de quem está a ponto de conhecer uma estrangeira
- ¿Quién, yo? De aqui de Coruña. – respondo com convicção
- ¿En serio que eres galega? Es que tiene un acento un poco raro…
E, já que estamos em ritmo de amor lamechas, pergunto se alguém resiste a um país onde “a xente no é fea, é riquiña” :



Agora só me falta o “hand parquing” (ou, como se pode ouvir no vídeo, o “randparquí”).
Mas eu hoje, pela primeira vez, estacionei em “doble fila”, e isso já me parece um passo muito importante na relação, ou não?

"En Vigo se trabaja, en Santiago se estudia, en Lugo se duerme y en A Coruña se divierte"

Diz a sabedoria popular, com a sua devida margem de erro.

(já que, afinal, em Vigo, Santigo e Lugo tambem se diverte)

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