Pâvê

9.12.08

Tenho uma nova teoria. (sim, mais uma)
Acho que o Estado português deveria patrocinar uma estadia de alguns meses em Espanha a todos os seus cidadãos.
Não, caro leitor, não me abandone. Prometo que este post não vai ser um lugar comum do estilo “há que ir para fora para se dar valor ao que se tem cá dentro” e muito menos (tal como a linha editorial deste blog tem vindo a comprovar) um texto de apologia à grande nação espanhola.
Mas a minha teoria baseia-se num tema muito importante sobre o qual os políticos portugueses se têm esquecido de reflectir nos discursos de exaltação à pátria: os fonemas.
Devíamos parar todos um segundo para agradecer ao til e ao acento circunflexo. Compremos presentes aos acentos agudos, aos graves e aos ditongos. Elejamos para prémio Nobel os sons anasalados!
Isto porque me parece que não damos o devido valor à superioridade da nossa língua.
Vejamos o exemplo (um assim aleatório) do espanhol:
Além de confundirem o “hasta luego” com o “hasta logo”, de pronunciarem, indiferentemente, “lháves” ou “jáves” para dizer chaves (mas isso é outro post), têm outro grande senão: o “v” e o “b”.
Claro que poderia contar aqui várias “anedotas” que já se passaram sobre o tema. Mas não percamos o fio a meada, estamos a reflectir sobre a superioridade do nosso português.
O que me chama atenção neste som abrangente e ambíguo do “be” espanhol é que para eles (que não conhecem outro som) esta deficiência da sua língua lhes parece normal e incorrigível.
- Como se diz “voluntad” em português? – me perguntam
- Vontade
- Bontade – repetem
- Não, vvvvontade, com “vvvveeeee”
- Ah, bbbbbbbbontade
- Sim, isso.
E quando já desistia da fonética espanhola, o milagre surgiu:
- Sabes que sei falar português?
- A Sério? Fala lá então.
- Éu falo moito véme portuguêz
- Bbbbbeeemmmm
- Vvvvvvééééémmmmmeeeeeee
- Não, é “b” como Barcelona e como “vino” (leia-se Bino)
- Eu falo moito vvvvvvvvvvvvvem portuguêz
- Sim, isso.
A conversa desconcertou-me. Afinal tinham a capacidade fisiológica de reproduzir o som, apenas não identificavam a diferença. Mas durante um tempo convenci-me de que a minha amiga era uma espécie de sobredotada dos fonemas e que o espanhol "normal" não podia dizer “vê”. Até porque se assim pudesse, porque não o faria?
Até que surgiu um convite para ir a um “pâvê”
- Onde?
- É que há uns “pâvés” muito giros aqui na Coruña
- Isso que me estas a dizer é um “Pub”?
- Sim, foi o que eu disse.
Não vou reproduzir o meu grito que frustração que seguiu esta conversa. Mas queria sim, que parássemos todos um pouco para dar “graças” aos nossos fonemas. E lançar uma petição para que no próximo 25 de Abril eles sejam mencionados no discurso do presidente.

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