6 da manhã

3.10.15



Os dias aquí começam cedo. Pelo menos para mim. A luz entra pela janela do dormitorio barato às 6 da manha. Que bucólico. Mas, na verdade, isso só acontece quando há janelas. Quando a minha casa é um pequeno bunker, o despertador em infrasons faz o o papel dos raios de sol.
Às 6 da manha os vietnamitas fazem Tai Chi pelos parques da cidade. Há música e senhoras a dançar com os seus leques. Dançar? Ou deveria dizer lutar?


Combinado com esta melodía há um boletín de radio que se ouve pelos altavozes das cidades. Propaganda governamental?, perguntei um dia. Não, responderam-me, são mesmo as noticias. Ya. So se esqueceram de mencionar que no Vietnam todos os meios de comunicação são públicos. Que os jornalistas trabalham para o governo e que é proibido por lei criticá-lo. 


Às seis da manhã, depois das noticias, há silêncio. Esse silêncio barulhento de quando os dias estão a começar. Ouvem-se as primeiras vozes a chegar ao morning market, a vassoura de ráfia a varrer o chão onde os sapatos estão proibidos, as scooters a fazer os primeiros “pipipi” da jornada. Ainda não faz calor e isso é raro. Rarissimo. Também não há estrangeiros com quem conversar. A quem contar intermináveis batalhas. De quem ouvir historias eternas sobre viageiros intrépidos. Às seis da manhã os meus prezados companheiros de aventura, dormem. E eu agradeço. Agredeço um momento de silencio no meio de dias tão completos e intensos. 
Porque aquí os dias cansam. E muito. Regateamos tudo, por exemplo. Constantemente. Até a comida. Não queremos ser enganados. Somos viajeiros experientes, não turistas, dizem os meus companheiros. E viajar, neste caso, é um trabalho. A nossa labor é cada dia conseguir gastar menos e, ao mesmo tempo, disfrutar mais. Escolher o melhor sitio a onde ir, o melhor restaurante e melhor experiencia. Fugir dos selfie sticks e dos party travelers. Entender como vivem os locais mas sem deixar-se enganar. Tarefa complexa. 



Estamos sempre alerta. Com o dinheiro dividido em três carteiras,  os lockers bem fechados e a mochila virada para a frente. Conferimos o troco e as notas do multibanco. Há quem, inclusive, tire fotos. “Uma vez tentaram trocar um nota minha por uma falsa”, conta o viajante que tem o telemóvel cheio de fotografias de códigos de barra e números de serie. 
Viajar é um negocio maravilhoso e ruinoso.
E é por isso que aprendí a gostar tanto das manhãs. Essas horas do dia nas que ainda não há maldade. Quando ainda não começou o regateio constante. El tira y afloja. Faz a mochila, fecha o cadeado, confere o passaporte, conta o dinheiro, faz um planning para o dia, procura onde comer, faz amigos, bebe, desfaz-te daqueles que não te interessam, deixa-te enganar e aprende. 
Às 6 da manhã é o meu momento para processar. 

E assimilar.

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