Calçada de alto risco

11.10.15

"Madam, madam, Tuk tuk!" É o primeiro que se escuta ao sair à rua. Tanto faz se são as 6 da manhã, as 3 da tarde ou 1 da madrugada.
Eh, lady, Taxi? Motorbike?



Respondo que não (com um sorriso) explico-lhes que gosto de caminhar. Mas eles não percebem.
"Very far, very far", dizem. Mas "how far" pergunto eu. "Ufffff.... 20min", explicam.
Nem em Laos, nem no Cambodia, nem na Tailandia, nem no Vietnam. Por aqui caminhar é um exercício de alto risco.

A moto é o veiculo familiar. Serve para levar os filhos ao colegio, transportar mercadoria, para ir a trabalhar e também para passear. Nela cabem 2, 3, 4 e até 5 pessoas. O bebé, a esposa e o animal de estimação. A comida, a vassoura ou a estatua de um buda gigante. Tudo encaixa nestas motos de pouca potencia que se multiplicam à velocidade da luz e que pouco tempo substituíram os pés.
As motorbike, essas que tanto poluem, que arrastam os remolques transformados en tuctucs, que apitam para avisar da sua presença... Essas motos são também as que ocupam a calçada enquanto senhores de giz na mão e talonario no bolso montam estacionamentos improvisados.




Em frente às casas vivem dezenas delas, mas não só. O passeio serve como deposito de coisas velhas, para acumular lixo ou até para montar um negocio.  Restaurantes portáteis de comida precozinhada invadem o cemento do sudeste asiático. Vendem fritos, sumos, noodles, fruta ou baguetes. Vão acompanhados de mesinhas e bancos de plástico. Invariavelmente vermelhos e azuis. É a street food, tão falada e popular. Foi também ela que roubou a calçada a estes individuos. Misturam-se com os mercados improvisados de roupa, sapato, material de construção, higiene ou brinquedos. Com mesas de jogo e os pequenos espaços de diversão. Porque aqui a calçada é um sitio para estar. Descansar agachado nessa postura tão pouco confortável para os ocidentais. Beber uma Beerlao. Fumar. Ver a vida passar. 





A calçada, como podem perceber, está ocupada. E então qual é o sitio dos pedestres?, perguntam os ingénuos. A questão é mesmo essa: por aqui não há pedestres.
"Nooo, noooo, too far", dizem-me cada vez que quero caminhar mais de um kilómetro. "Better motorbike", explicam-me acrescentando que só me custará um dolar. E eu, uma e outra vez, recuso-me e acumulo horas esquivando o lixo, pisando no barro, tropeçando nas pedras, ocupando a rua como um veiculo mais e parando, sempre que quero, para admirar esta vida "estrangeira". Porque por muito que aqui passear seja só para lunáticos ainda não consegui descobrir uma maneira melhor de viajar. Mesmo que a calçada esteja ocupada.

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