Too much

10.12.15

O que tem eu não gosto, o que eu gosto não tem. O que eu quero é simples demais e o que o mundo quer precisa de mais simplicidade. Passo os dias com cara de enjoo. "Esse é lindo", me dizem, e eu respondo "é horrível". Sou um antónimo personificado. Preciso de mais brilho, mais decote, mais longo, mais justo. E eu quero menos. Sempre menos.
"Sou chata", justifico. E provo outra renda, outra lantejoula. "É feio", digo, para abafar todos os suspiros. Porque aqui é assim. Perguntam o teu nome mas na verdade só te chamam de "querida", às vezes, de "amor".
- Prova esse, amor, 'tá saindo muito.
- Não gosto, não.
- Nossa... mas é tão bonito.
- Não acho bonito, acho feio. Muito feio.
- Que nada... Está na moda.
Eu já nem respondo. Fecho a cortina. Obrigada e adeus.
"Quer um saltinho, querida?". Não. Não gosto de salto. Não vou de salto. Caras de choque, de desilusão. Porque você sabe, né? Madrinha sem longo não é madrinha. Longo sem salto não é longo. Sapato sem salto não é sapato. E então, eu não sou ninguém. Conclusão lógica.
No fundo tudo é uma questão de opinião. E a minha, claro, é a que está certa. "Sou simples", explico ao entrar na loja. E me encho de orgulho.
Simples é o que eu sempre quis ser.

You Might Also Like

1 comentarios

Subscribe