Algo que te faça feliz

18.1.16

"Haz lo que sea pero que te haga feliz", me dizem. E eu paro.
Porque há poucos dias, por exemplo, descobri que o surf me faz feliz.
O surf? Quem diria!
Juntei-o então à escrita, às viagens, à cozinha, aos meus cremes naturais e à leitura.
Faz-me feliz tomar chá quando o frio é solarengo, fazer risotto de abóbora com a minha mãe, adormecer no sofá no domingo à tarde. Sou feliz quando vou ao cinema, quando como gomas e quando rego as minhas plantas. Sou feliz comendo pastel da feira com a Nonna, quando ouço a rádio de manhã, quando leio uma reportagem bem escrita quando jogo "buraco" com a Vovó Leda ou quando durmo de conchinha.
Mas há coisas felizes que dão dinheiro?, pergunto.
Porque o meu professor de surf queixa-se do hombro e dos alumos que não se esforçam - tento ignorar a referência. As cafeterias agora vendem tapas de fritura. As lojas de gomas dão caries nos dentes. Os jornalistas já não têm tempo para escrever bem e os feirantes queixam-se da sua vida de  saltimbancos. A minha mãe vive longe da Nonna. A casa da Nonna está a mais de uma hora da Vovó Leda e as três estão a muitos, muitos, muitos kilómetros da minha casa. A minha casa faz-me feliz porque não é trabalho (ou não será assim?) e eu meu trabalho não me faz feliz porque se chama trabalho (ou será que não?).
Sempre que alguém diz que é feliz no seu trabalho, eu penso: "mentes". Não és feliz quando o teu chefe te grita, nem quando não recebes o suficiente. Não és feliz quando tens de trabalhar no sábado e no domingo à tarde, quando o despertador toca às 7 da manhã. Mentes. Ou mentes ou eu estou amargada. Ou mentes ou eu preciso encontrar o que me faz feliz.
Desesperadamente.


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