A nonna

20.1.16

Ela diz "danguetis" e "service service". "Dais" em vez de "dez" e outro dia pedí um pastel de queijo e ela me trouxe um escrito "cheggio". Essa é a Nonna.
- Agora vou ver o meu programa - ela diz enquanto se deita no seu cadeirão e escuta qualquer entretenimento em italiano. Na verdade, "o meu programa" pode ser um que passe na RAI, mas também serve se ele for apresentado pelo Silvio Santos. 
Novelas, só do SBT. Vinho, com água e, se puder ser, com fruta. Tomate, sem semente. Praia, "só se for para tomar uma agua de coco". Ela não gosta do sol nem do mar. Um trauma depois de um mês num navio. "Uns 20 dias" foi quanto durou o trajeto Italia-Brasil. Uma viagem só de ida em busca de um futuro - e um marido. Ela tinha rejeitado o pretendente americano "porque tinha voz fina" e gostou do Nonno: voz grossa, alto, bonito, mas com um problema: era mais novo que ela. "Não faz mal, eu nunca pareci a idade que tenho", justifica. Nem naquela época, nem agora. 
Tiveram 4 filhos e trabalharam duro. Ele, fazendo sapatos, ela, costurando. Agora "a loja" mudou de geração, mas é ali onde a Nonna passa os seus dias. "Me distrai", explica. Ela gosta de rotinas. Café da manhã às 7.30, no meio da manhã, um chá e o almoço é sempre às 13.30. Segunda feira tem feijão, quinta é dia de macarrão e no sábado não tem comida porque todos pedem pastel. 
- Compra no meu amigo - ela diz, quando sou eu que vou na feira. 
- Mas no teu amigo o pastel não é tão gostoso - respondo. 
- Ah, mas quando eu vou ele me chama "D. Angela, D. Angela" e então eu compro sempre lá. 

Ela é popular. No bairro e na familia. 

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