Das rotinas

21.1.16

Quando vivia com os meus pais não tomava café da manhã, almoçava pouco e jantava muito. Víamos televisão na cozinha. Quando era adolescente ligava todas as noites para o meu namorado de turno. Os namorados mudavam, o hábito não. "Mas vocês acabaram de se ver, o que têm ainda para conversar?", me perguntavam. Eu ignorava o comentario e digitava cada noite os mesmos números.
Na Italia, por exemplo, não faltava a nenhuma aula. Saia da discoteca, tomava banho e ia para a faculdade. Dormia nos intervalos, mas não perdi nenhum dia.
Quando morava com a Nonna saia de casa às 7.15, pegava dois ônibus e um metrô. Voltava tarde e cansada mas o meu prato sempre estava no microondas.
Um dia, quando já morava na Espanha, tive saudades do Nonno. Foi então que me lembrei de como ele molhava as bolachas María no café. Eu não gosto de café e adaptei a técnica ao copo de leite. Não é que funcionou? Não tem nada mais reconfortante.
A minha avó, a vovó Leda, me deu um dia um colar. Adorei e coloquei na hora. Não tirei mais. Passaram anos e um dia o colar quebrou. Tive uma crise de ansiedade e liguei para ela: "Vó, está tudo bem? É que o colar quebrou... achei que podía ser um sinal..."
Em Madrid jantava 7 dias por semana quatro torradas com tomate e orégano. Uma baguete de pão durava 2 dois dias e a caixinha de tomate do Mercadona aguentava a semana inteira. Às vezes trazia restos do almoço para casa e jantava duas vezes.
No meu primeiro ano da Coruña só ouvia Bob Dylan. Em Turin chorava ao som de Ana Carolina.
Quando há eleições passo o dia escutando canções revolucionarias.
Durante um tempo corri. Depois nadei. Fui na academia. Fiz spinning. Andei de bicicleta. Fiz exercício em casa. Nunca atingi os meus objetivos. Nunca persisti muito tempo.
Agora acordo todos os dias uma hora antes do resto do mundo só para tomar um chá preto. A partir desse momento, não tenho horarios. Liberdade. "Quero aproveitar o meu tempo livre, quero aproveitar o meu tempo livre", é o mantra que toca en repeat na minha cabeça. E com tanto mantra e tanto tempo, me perdi.
Sem rotina o tempo foge.

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