La Doble Navidad

6.1.15

Eu chamo-lhe Navidad esquizofrénica. Porque é um Natal que não sabe bem se é Natal ou se é Reis. Que depende. Que mais ou menos. 
- E tu o que celebras? - é a pergunta da praxe em território espanhol nestas datas.
Uma questão que não é tão simples como possa parecer: podes celebrar o Papa Noel ou os Reyes. Mas também podes preferir a Nochebuena, que, ojo, não é o mesmo que a Nochevieja. Podes dar só um “detallito” em Navidad e depois um presente grande em Reis. Mas também existe a modalidade de: “O Pai Natal é uma invenção consumista americana, ¡Morte aos capitalistas!”. E então em Nochebuena só há um jantar em família, sem direito a abraços de Feliz Natal (¡esse feriado católico sem sentido!). E eu passo a noite a olhar o relógio e digo: “Já é meia noite!! Feliz Natal!!” E ficam todos a olhar para mim com cara de: “é muito estranha esta rapariga”. 
¡Qual Feliz Natal qual que! Aqui o que celebramos é os Reis só que damos o presente no Natal para que as crianças possam brincar durante as férias. Claro que as crianças também são meio esquizofrénicas porque não sabem a quem escrever a carta. É que há diferenças: a do Pai Natal colocas na bota e no dia 24 à noite tens de deixar-lhe leite e bolachas. Mas os reis demoram um pouco mais a chegar e vêm com um camelo, então há que deixar-lhes agua, porque esses camelos vêm do deserto e ali há seca. 
A nochebuena celebra-se depois do jantar, mas os Reyes são de manhã. Porque na noite antes todo o espanhol que se preste sai à rua para ver a “cabalgata”. “Qué vienen los reyes, qué vienen los reyes¡”.  Crianças histéricas a gritar e um desfile em cada cidade como os de carnaval. Porque, claro, só há três reis magos, mas chegam todos ao mesmo tempo a todas as cidades do país. Estamos a princípios de Janeiro, 5 graus lá fora, e crianças munidas de gorros, luvas, cachecóis e casacos polares a gritar. A gritar e a levar com caramelos na cabeça. Porque é isso que os reis fazem quando chegam à cidade. Atiram rebuçados para a cabeça dos meninos. Então esse é o dia oficial dos dentes saudáveis. As crianças comem rebuçados e os adultos roscón de reyes. O bolo rei. Filas quilométricas para comprar o melhor da cidade, porque a receita é difícil. Toda a televisão ou radio que se preste está há 5 dias a dar receitas, truques e a insistir que não é complicado de fazer. Mas é. Dá trabalho, incluí anís, frutas caramelizadas e “manteca de vaca”. Não, é melhor comprar. E então os jornalistas vão fazer reportagens às filas das pastelarias. Um clássico. E no bolo rei há um bonequinho de chumbo, que, va, pelo menos tem alguma utilidade. Dá para brincar. Mas aqui o tão aclamado roscón tem uma “haba”. Nada mais, nada menos que uma fava. ¡Que emoção, me tocó a fava!”. E aos doces unimos os segundos presentes. Ou detallitos. Depende da família. Mas na verdade, toda a gente está é a espera do dia 7. Porque no dia 7 empiezan las rebajas.


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