É Hoje, ou uma forma lamechas de dizer "amor"
15.4.10Lembro-me da primeira vez que soube do que se tratava. Lembro-me de duvidar. De chegar a casa e dizer “não sei”. Mas havia algo naquela pessoa, naquela maneira de falar, naquele projecto… “Não sei, mas sim”, respondi. E houve guinchos e assobios, “vendidaaaaa”, gritaram-me, insultaram-me, tentaram demover-me. E eu ri-me, pus a casa às costas e embarquei de olhos vendados naquela aventura com nome de vinho.
Por ali havia pessoas estranhas, calões desconhecidos e um ritmo nunca antes visto. Viajávamos, gritávamos e fazíamos silencio, ai o silencio. “Gravando!”, diziam e ninguém ligava. Os meus olhos eram os únicos que brilhavam sempre que ouvia aquela palavrinha tão desgastada: “Gravando!”, diziam, e eu pensava, “Isto é real”. Pouco a pouco fui apaixonando-me por tudo aquilo, por cada movimento, cada mudança de guião, cada histeria de cada actor. Eu sei que isto tudo parece um grande cliché, na verdade, acho que esta história de amor foi realmente uma gigantesca lamechice, mas de todas as formas, ou quem sabe, por isso mesmo, vale a pena ser contada.
Porque o que aconteceu depois foi um drama daqueles bem grandes. Do nosso amor gerou-se um filho e eu (desta vez sim, traidora!, traidora!), abandonei o meu bebé dias antes do seu nascimento. Peguei em mim e na minha casa móvel e partimos sem olhar para trás em busca de novas aventuras. Perdi todos os desejos, os enjoos de última hora, as queixas de como a barriga pesava, os nervos do dia do parto. Perdi o primeiro pontapé. Pedi-os mas vivi tudo à distância, como aquele avó expatriado. Enviaram-me fotos, vídeos, mensagens. E eu vibrei, gritei e chorei de alegria a cada nova meta atingida. “Mas já não é o teu bebé” diziam-me os que não entendem nada da vida. E eu olhava com desprezo e só porque esta é uma história de amor lamechas, dava-me ao luxo de responder: “Mesmo que não veja o seu parto, será para sempre o meu filho”.
Tudo isto, todas estas letras melancólicas, para dizer-vos que hoje é o dia. O DIA. Eu sei que já não sou sua mãe, mas hoje, às 22.15 sofrerei como se saísse do meu útero, e durante esta noite, até ao anuncio da sentencia final, não conseguirei dormir.
É hoje, meu amigos, sete meses depois chegou o dia: é hoje:
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