Pronto, ela admitiu

2.2.10

Ela gosta de telefone ocupado, de vida corrida, de cinema na sexta à noite. Ela queria beijo na orelha. Queria queixar-se que faz zumbido, que incomoda, que "sabes muito bem que eu não gosto disso". Ela gosta, gosta sim, que não se enganem.
Ela só queria pequeno almoço surpresa, beijinho de boa noite e telefonema com remelas. Voz de criança que se esconde dos amigos, alcunhas envergonhantes, conversas sussurradas com olhares. Porque há gostos para tudo e ela é feliz debaixo de uma manta em frente à tevê, de mãos dadas na praia, apesar do calor. Ela queria mais daquelas piadas recorrentes que, pensando bem, até são um pouco enjoativas. Ela gosta de enjoativo. Disso e das tarde de domingo, das viagens repentinas, da companhia fiel e do olhar reconfortante.
Chamem-na masoquista, sofredora compulsiva, dependente, o que quiserem, mas ela gosta, gosta mesmo. Pronto, custou, mas admitiu.
Entã0 agora não lhe venham cá propor fazer uma festa para comemorar a falta de tudo aquilo. Porque, para ela, isso já seriaentrar na fase de negação.

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