Os amores platónicos

3.2.10

Chegas lá, pam, pum, olhas, gostas e pronto. A vida segue, o ritmo aumenta, os passos sucedem-se, o trabalho acumula. Felizmente temos trabalho, diz o sicrano, e nós confirmamos, concordamos, acenamos. Vezes demais, pensamos. E chega de rimar, que assim boa impressão não causamos.

E então ele vai lá e pimba, olha para ti, faz aquela graça, diz nada daquele jeito natural e tu, pam, já te vês aí toda tcham a olhar. Só a olhar que, dizem, não ofende. (Blasfémia!).
E ele volta-se e, tumba, responde com essa expressão marota, atenta, perspicaz. Tu tentas interpretar e, pim, já está, foste apanhada.
Então começa toda a dialéctica de sinais, porque se mexeu no cabelo, se se sentou ao meu lado, se pagou o café, se pediu dois copos de vinho. Puf. Tudo mentira.
Acorda, amiga, acorda. Rrrrriiiim, toca o despertador. No fundo não é mais que um tipo simpático e tu não passas de uma alguém patética. Pum! esta doeu.
Mas não podes evitar e também nunca irás admitir que vocês já tinham futuro. Porque num segundo passa pouco e passa muito e para ti (humpf), "mulher independente", não é preciso mais que isso para fazer-te sonhar.
Depois, passada a tormenta, chegas a casa e rá-rá-rá, que patética sou. Pões-te na cama e, plash, um novo dia recomeça.
Nós alimentamos os amores platónicos porque são os únicos que são perfeitos, disse um amigo num claro momento de iluminação. Clap, clap, clap.

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