Proprio quella, del Piemonte
8.12.09Eu sou assim, esquecida. Memória de peixe, come queijo, cabeça de velha. Sou como o armário lá de casa: entra um novo sai o antigo. Sou pessoa do presente aterrorizada pelo passado.
Mas ontem houve uma ideia que me preocupou especialmente e que me deixou toda a noite a dar voltas entre os meus dois edredons nórdicos: “E se um dia me esqueço dela?”, perguntava à minha cabeça oca.
Da cidade dos gelados de iogurte que acompanhavam as tarde de frio, das focaccias compradas na portinha da Via Pó. Daquelas arcadas que guardam tantos segredos. Do Xó e do sangre de Judas. De Bardonecchia e da Notte Bianca. Do Nano e o seu amigo Strano. Do LD e da Strada del Fortino. Do Sponda. Seria impossível esquecer o Sponda.
A semana passada apercebi-me que já nao me lembrava do andar em que vivia. Do numero da minha porta, nem do meu telemóvel. Essas memorias já perdi. Já se foram para a caridade junto com a roupa usada.
Mas e se o tempo passa e eu esqueço-me também dos Murazzí e da Piaza Vittorio Emanuelle? Do monte Capuccino e do tram 16. Da Porta Nuova, da Porta Susa e do eterno "ritardo dei treni". Da Fontana de Trevi e daquele chinês ao lado do cinema. E se daqui a uns meses já não me lembro da Guianduia, da Mole e de Soperga? Logo agora que já clicaram no “delete” em todas as músicas de apoio ao Toro.
Então eu escrevo. Compulsivamente, escrevo. O nome da Piazza Castelo e da Piazza San Carlo. Da Rondò della Forca com gli extracomunitari. Do Valter, (recuperei o seu nome do fundo do caixote, um autentico bem ao ambiente) e do Manuale de Amore. Tento convencer-me que os espaços físicos são secundários e o que importa mesmo são os momentos, aquelas histórias contadas, recontadas e finalmente calcadas nesta cabeça de peixe morto. Mas quanto mais anoto, mais me aterrorizo. Profundamente e dramaticamente, aterrorizo-me.
Porque subjacente a todas esta palavras, paira a inevitável pergunta:
"E se um dia acordar e não me lembrar sequer do nome da minha Never Land?"
Torino, proprio quella, del Piemonte.
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