La loteria de Navidad

19.12.09

O meu primeiro contacto com a dita cuja foi pouco tempo depois de chegar a Espanha.
— Alguém sabe qual é o dia do ano em que se vendem mais jornais? – pergunta o professor.
E respondem os alunos em coro (estrangeiras excluídas):
— No dia 22 de Dezembro.
O dia em que saem os resultados da “loteria da Navidad”. Porque aqui em Espanha é assim. Sabes de cor o teu aniversário, o dos teus pais, a data de um ou dois feriados, mas nunca, nunca te esqueces do dia em que se publicam o resultado da lotaria de Natal.
O frenesim começa a finais de Novembro. E quando digo, frenesim, meus amigos, pensem em filas gigantescas, horas de espera, sangue e violencia. Porque há que comprar a lotaria em cada sítio por onde passamos. A da empresa, a do restaurante onde almoçamos, a do supermercado, do café da esquina e do clube de futebol. Há que comprar um número no Sol e, claro, ficar horas na fila para conseguir a da Doña Manolita. Porque “Y si toca?” ? E se eles ganham e nós não comprámos?”. E então lá vão os espanhóis gastando 20 euros cada vez que vêem um número “bonito” à frente. E, à medida que o Natal se vai aproximando, mais frequente são estas conversas:
- Ai, este ano estiquei-me. Já comprei 7 lotarias – que conste que isso representa 140 euros – e ainda tenho de comprar mais três.
E eu, invariavelmente rio-me. É impossível conter a minha veia de estrangeira.
- Porque te ris Marina? – pergunta um novo no grupo
- É que a Marina “não acredita nessas coisas” – diz alguém em tom de troça
- Como não? – revolta-se a mesa
E eu digo e volto a repetir. Vezes e vezes sem conta.
- Recordo-vos que as chances de ganhar são de 1 em 85.000 – ruídos na mesa – e, sinceramente, esse fenómeno assusta-me.
O diálogo que se segue, também já o tenho decorado:
- Mas imagina se voltas de ferias e nos “tocou”?
- Vou ficar feliz por vocês. Mas se não vos tocar, depois conto-vos tudo o que fiz com os 150 euros que não gastei na loteria de Navidad.
Eles não me percebem e eu não os compreendo. A única coisa que posso garantir é que há vendedores de lotaria que pedem, neste altura do ano, escolta policial já que são cada vez mais frequentes os assaltos com violência às casas lotéricas. Há também aqueles que ficam mais de cinco horas na fila de uma portinha no centro de Madrid, porque ali “já tocou em vários anos”. “Mas vocês não percebem que o sorteio é totalmente aleatório?”. Não, eles não percebem. “Não acreditas em sorte Marina?”, “Não, acredito em trabalho árduo”, mas isso deve ser um trauma de infância.
Feliz Natal a todos e, para os que jogaram, boa sorte. Falamos quando voltar de ferias!

* O jogo funciona mais ou menos assim. No verão põe-se à venda 185 series de 85.000 números. Cada serie é vendida por décimos (20 euros cada um) o que significa que em Espanha estão a venda anualmente 157.250.000 bilhetes de lotaria de Natal. E, sim, vendem-se praticamente todos. A razão? Estão em jogo 3.000.000 de euros (300.000 por cada décimo).

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