O "duplo Natal"

29.12.09

Para quem não sabe, aqui vai: os espanhóis têm dois natais. Sim, não me perguntem porquê, mas não lhes bastava um. Antigamente, sempre que começávamos a falar dos "reyes" (que é como quem diz o Natal, parte II, celebrado em Janeiro) eu acabava por soltar um suspiro do tipo:
- Ai, vocês espanhóis têm tanta sorte.
Ao que, invariavelmente, me respondiam:
- Pois é, em Portugal não há Reis, pois não?
Ora aí está uma coisa que me incomoda. É que eu garanto-vos que isto não me passou nem uma, nem duas, nem cinco vezes. Como é que um povo pode estar tão isolado do mundo? Então eu respirava fundo e respondia:
- Não, meus queridos, não há. Mas não é só em Portugal. É no resto do mundo todo.
Seguia-se uma cara de surpresa e uma frase de espírito nacionalista tipo "e viva España!"
Até que outro dia descobri algo que matou definitivamente a minha inveja doS NataiS espanhóis e que enterrou para sempre aquela conversa enfadonha.
- Mas sabes que nós nem sempre recebemos presentes nos reyes? - disse-me uma amiga.
- Ai não?
- Não, se nos portamos mal podemos ganhar carvão.
E foi então que apareceram de catapulta infinitas histórias de amigos, primos de amigos, sogros e cunhados que um dia receberam carvão no dia dos Reis e que choraram tanto, tanto que nem sequer aproveitaram os presente. Mas também houve aquela, aquela uma, pequena e memorável história do amigo do tio do conhecido que ficou tão traumatizado por ter recebido carvão nos Reyes que quando cresceu mandou tapar a lareira lá de casa.
Portanto, quando passearem por Espanha e vislumbrarem casas sem chaminé gritem lá para dentro:
"Quem é que vos mandou ter dois Natais?"
E esta é a história que vou contar para o resto da vida sempre que alguém vier para perto de mim vangloriar-se do seu "duplo Natal".

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