O decisivo compasso de espera

19.10.08

Concluo, após algumas incursões em “países estrangeiros”, que o mais difícil para se ser “nativo” não é falar a língua, nem saber de cor a história. Conhecer a bandeira, o hino e o completo corpo presidencial.
Imigrar é, acima de tudo, adaptar-se a uma nova cultura. Se os portugueses vêm como falta de respeito rasgar um folha de papel sem pedir licença, para os brasileiros é uma ofensa ver alguém a pousar a bolsa no chão. Se para os italianos os beijinhos são ao contrário, para os alemães não há beijinhos nunca.
Dos espanhóis conhecemos a siesta, as refeições a horas tardias e as frases intercaladas com asneiras. Mas há um pequeno detalhe que ainda não me consegui habituar.
Em Portugal existe aquela conversa de circunstância que chega até a desesperar:
Olá, tas bom?
Sim, e tu?
Também.
Há diversas teorias sobre a pertinência da pergunta e da resposta e outra tantas dissertações sobre as pessoas que não cumprem o protocolo.
Pois os espanhóis enquadram-se no segundo grupo.
!Hola Marina! ?Que tal?
Muy bien ?y tu?
E ai gera-se a confusão na cabeça dos nuestros hermanos. Não porque por aqui não exista o hábito do “e tu?”, mas porque existe um pequeno, ínfimo e decisivo compasso de espera entre o Muy Bien (mais alguma informação adicional) e a pergunta que se lhe segue.
Falta-lhes a mecânica do discurso, a robotização apática da pergunta que não quer saber a resposta. E, ao chegar aqui, de protocolo traduzido, espalhamos a confusão e pintamos, outra vez, na nossa testa o famoso carimbo de “estrangeiro”
E como para qualquer problema espanhol, a solução volta a ser a mesma: espera, pausa, relaxa.
Bem, isto, como já é de costume, com a devida margem de erro.

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