Beijinho

10.7.08

O telefone tocou.
Era ele.
Não acredito.
- Tou?
- Tou?
- Olá!
- Acho que é engano.
-Agora vais ter de falar comigo.
- És tu?
- Sim!
- Não era para ti que eu queria ligar.
- Freud explica.
- Desculpa.
- Tas bom?
- Sim. Com muito trabalho
- Há coisas que nunca mudam. E de resto tudo bem?
- Sim. Muito trabalho.
- Pronto. Já vi que queres que te deixe trabalhar.
- Desculpa, estou um pouco atrapalhado.
- Gostei de saber que estas vivo.
- (silêncio)
- Quer dizer, tas vivo, certo?
- Parece que sim.
- Beijinho.

A conversa passeou-se vezes e vezes sem conta na minha cabeça. Conclui que nunca cheguei a dizer o meu nome. Talvez nem me tenha reconhecido. Não. Não é possível. Foram dias a mais a ouvir a minha voz telefónica.
A voz dele não tinha mudado. Nem o tom atrapalhado de lidar com problemas. Nem a incapacidade de lidar com o mundo.
Os hábitos ainda eram os mesmos. As chamadas desesperadas aos amigos. Os estudos até de madrugada.
Adormeci a tentar ler as entrelinhas.
Acordei e conclui: afinal o ciclo está quase fechado.
“beijinho” pode ser um bom final para esta história.

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