Venga
26.7.09A primeira vez que me pus a pensar nestas coisas foi na temporada que vivi no Brasil. Estava a fazer uma entrevista por telefone e chegou aquela hora desconfortável da despedida formal. Eu com o meu português camuflado de sotaque brasileiro digo em jeito de despedida:
- Obrigada pela ajuda, com licença.
Nesse exacto momento estava um amigo a passar e comenta:
- Cortou-se a ligação?
- Não, porquê?
- Desligaste-lhe o telefone na cara…
Demorei algum tempo a perceber que possivelmente o meu entrevistado ficou do outro lado da linha à espera que eu lhe dissesse porque é que lhe estava a pedir licença.
- Era eu a avisar-lhe que ia desligar o telefone – aclarei. O meu amigo olhou para mim com cara de E.T, murmurou algo como “ai estes lusos” e foi-se embora.
Ao chegar a Espanha percebi como os rituais telefónicos reflectem muito a personalidade de cada país.
Em Portugal pedimos licença para desligar o telefone, no Brasil desejamos ao nosso interlocutor um “resto de um bom dia” e em Espanha… pois ai entra outra história.
A primeira vez que o escutei, deu-me um no na cabeça. Tinha chegado há dois dias a Espanha e uma senhora diz-me:
-Venga, tchau, hasta luego…
Fui ver ao dicionário e confirmei a minha suspeita: “Venga”, em português significa “venha”. Mas ela está a chamar-me para ir a algum lado?, perguntei-me. Na dúvida, decidi ficar calada.
Foi então que percebi que, assim como um uma conversa informal os portugueses dizem “vá, adeus”, em espanhol diz-se “venha”. Deve ser porque o português quer sempre que o outro se vá embora e o espanhol está sempre disposto a que venham, conclui. Por via das dúvidas, prefiro o “venha”. E que sejam todos bem-vindos.
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