Alas Solidarias

15.7.09

Tudo começou com uma pergunta inocente: “Marina, gostas de voar?”
O resto é a história de um piloto que “há muito tempo não andava nisto”, um fotógrafo que já tinha voado “num assim parecido” umas “quatro ou cinco vezes este ano” e uma aprendiz de jornalista que ainda era virgem nessas andanças.
O piloto comunicou com a torre de controlo e o fotógrafo aproveitou para ligar à sua mãe, “se acontecer alguma coisa já sabes que te amo”. A jornalista mirim lembrou-se nesse momento que não havia ninguém em Espanha que tivesse o contacto da sua família e anotou a informação no seu Moleskin.
- O mais difícil é a descolagem - disseram. E a estagiaria agarrou-se ao cinto de segurança como se verdadeiramente acreditasse que ele a salvaria.
“’Tas bem?”, perguntou o fotógrafo em tom de rotina. A jornalista bem quis responder, mas o seu microfone não funcionava. No céu só se pode falar por auriculares, concluiu.
Então passaram por Portugal e sobrevoaram as ilhas Cies. “Os turistas sempre adoram esta parte, porque depois de lá estar percebem como as ilhas são diferentes desde cima”. A jornalista não comentou e quis tirar o seu caderninho para anotar algo como: “Urgente: Ir às Cies”, mas nesse momento os seus pés saíram do chão, que é como quem diz, voou dentro de um avião. Era o piloto boa pinta a meter-se com a virgenzinha. “Gostas de emoção?” E ela ria-se, como costuma fazer em momentos de nervosismo. Mas foi o fotógrafo que sentenciou à morte esta diversão aérea dizendo que estava enjoado, que, curiosamente, em espanhol diz-se mareado, mesmo que o mar esteja centenas de metros abaixo dos teus pés.
A aterragem foi silenciosa. O piloto prometeu uma próxima aventura “com mais manobras”, o fotógrafo queixou-se do seu estômago e a jornalista tentou pensar nas perguntas que queria fazer sobre aquela ong que transportava crianças de Gaza para serem operadas em Madrid, mas só conseguia rir-se. Só que desta vez já lhe tinha passado o nervosismo.

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