Uma eterna carta de amor

10.7.09

As primeiras memórias que tenho tuas são de quando eu ainda era uma anãzinha e conseguia juntar dinheiro suficiente no meu mealheiro para poder, por fim, chegar à fila do bar e pedir cem escudos de ti. Quem diria que naqueles saquinhos começava uma linda historia de amor
Mas crescer é difícil e logo depois veio aquela fase em que “comprar coisas no bar da escola é só para crianças”. Tu ficaste triste, nunca me vou esquecer, mas lembras-te quando descobrimos as lojinhas dos cinemas? Eu saia com os meus pais e conseguia sempre convence-los a trocar as minhas pipocas doces por um pacote cheiinho de ti. Namorávamos todo o filme. Memórias de adolescentes irresponsáveis.
Mas a fase de ir ao cinema com os pais passou rápido e então apareceram os amigos. Houve aquele festa surpresa inesquecível em que eles deram-me um caixote cheio de presentes e, para acomodar as coisinhas na caixa, quem apareceu? Eras tu em forma de milhares de sacos de amoras coloridas. Dias de paraíso. Dai em diante, tu tornaste-te o trunfo perfeito para todo o tipo de ocasiões. E os meus amigos nunca se deixavam de surpreender pela minha felicidade histérica ao ver-te. Acho que, no fundo, invejavam o nosso amor.
E lembras-te quando tive aquele namorado que caiu no erro de criar uma rotina de presentes (tu, em milhares de saquinhos) que quase o levou à falência? Nós gozávamos com ele e ele com a nossa rapidez de esvaziar aqueles sacos de animaizinhos coloridos sem nunca ter dores de barriga. Bons dias esses.
Mas como em todas as relações, meu amor, a nossa também esteve longe de ser perfeita. Houve o dia em que chegou aquela maldita “vaca louca” que nos separou durante um ano inteiro. Quase entrei em depressão, tu sabes bem. Mas também não posso deixar de mencionar aqueles (vergonhosos) seis meses em que eu tive um pequeno deslize. Desculpa estar a trazer isto à baila outra vez, mas quero que a nossa relação se baseie na verdade, meu amor. Sim, eu troquei-te por potes de chocolate de barrar no pão. Pronto, já disse. Mas como todas as crises, as nossas também foram passageiras. Não é preciso grande sabedoria para descobrir que o verdadeiro amor dura para sempre. E o nosso, sem dúvida, pertence a esse grupo.
Agora, nesta minha vida de eu-trabalho-seis-dias-por-semana, és tu a única coisa que me conforta. Saber que quando o texto encrava posso levantar-me da minha cadeira, descer as escadas e ir até à máquina namorar um pouco contigo.
Mas escrevo-te porque agora estamos em crise. Ambos sabemos que para que a nossa relação resulte, tenho de conseguir ganhar-te.
Porque as gomas, para saberem a gomas, têm de ser oferecidas com um sorriso maroto e comidas com ar de criança traquina de dentes cariados.
Quem será o nosso próximo alvo, meu amor?

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