Alguém

23.1.11

Até que chega um dia que ficas doente. Vomitas no bar, no táxi e na sanita da tua casa de banho. Enjoa-te dormir, levantar, caminhar e descansar. A barriga sai pela boca e o mundo anda às voltas. Até que chega o dia em que, depois de meses de afirmações independentistas e emancipadas, entre um vómito e outro pensas: como queria ter alguém. Alguém que te segurasse o cabelo, que te limpasse a boca e te pusesse toalhinhas na testa. Alguém que te desse um remédio, te fizesse a comida e te dissesse que tudo ia acabar bem.
Mas não. Então no dia seguinte te levantas e tentas limpar a casa de banho, mas vendo que não tens forças, pensas: “preciso melhorar”. Na falta de uma mãe perto, visitas o Google que te diz o que podes comer nesse estado. Tapas o pijama com um casaco até aos pés e directamente para o supermercado. Então comes meia maçã e juntas energia para rectificar o desastre da noite anterior. Depois, um frango com arroz e cama. Rebolar na cama de mão na barriga e Google outra vez. Agora para procurar onde fica o hospital mais próximo e, just in case, deixas anotada a morada ao lado da cama. No dia seguinte acordas com vontade de ler o jornal e isso é sintoma de que o mundo voltou à normalidade. Quer dizer, quase tudo voltou ao normal, porque houve uma ideia que continuou a andar às voltas na tua cabeça: se calhar já é altura de ter alguém.

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