Tudo menos as unhas
15.3.10No trabalho chamam-me "Marina sorriso".
Porque quando nos disseram que sairíamos à rua com uma câmara no ombro, eu soltei uma gargalhada. Quando a minha companheira abandonou-me a meio da minha primeira montagem, eu respirei fundo, sorri e trabalhei até de madrugada. Quando me contaram da produção, do carro, do computador e dos turnos, eu não me importei, a serio que não!
Mas hoje o meu chefe disse-me:
- Ah, e esse verniz vermelho tem de sair.
Eu ri-me, claro, e comentei algo como: "Ha-ha-ha que boa piada, os homens não percebem nada de moda"
E então ele respondeu, meio serio, meio a brincar:
- Não quero nada que distraia a atenção do espectador.
(silêncio) A coisa era mais seria do que eu esperava.
Então senti que era momento de apelar.
Tentei explicar que o espectador adoraria ver unhas bonitas na televisão, não funcionou. Que eram uma marca da minha personalidade, ele não caiu nessa. Que queria conversar com a nossa estilista, ele disse que era o chefe dela. Que iria queixar-me ao sindicato, ele lembrou-me que eu não estava inscrita.
Transtornada, e vendo que não havia como demove-lo, fui para casa, glup, peguei na acetona, glup, e no verniz transparente, glup glup, e pus mãos à obra. Quando acabei o serviço mandei uma mensagem ao meu chefe: "A antiga Marina morreu, favor enviar o seu corpo de unhas pintadas para a sua residência portuguesa".
Ele riu-se. Mas eu não.
Estou de luto. E nem sequer posso ter as unhas pintadas de preto.
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