Eveneme… quê?

12.5.09

Desde que cheguei a Espanha que me lembro muito de um episódio que se passou nas emblemáticas aulas de Teoria do Texto.
A professora falava, como quem comenta o novo corte de cabelo da vizinha, sobre a ligação da escrita e da oralidade e sublinhava a necessidade da “problematização da evenemencialidade da escrita” na sociedade moderna.
Foi então que no fundo suege uma voz que pergunta no idioma internacional dos erasmus:
- Desculpe, mas pode repetir a frase?
A professora, encarnada por um espírito de caridade sem fronteiras responde à erasmus:
- E-ve-ne-men-ci-a-li-da-de da escrita. É normal que não conheças a palavra, é um galicismo que gosto de usar.
A atenção da sala voltou-se para a rapariga que, nesse momento, olhava para os outros alunos em busca que uma reposta que tivesse, pelo menos, una palavra que constasse no seu dicionário de bolso.
A professora, já no seu estado mais puro de solidariedade para com as minorias internacionais, esclarece, com um tom de voz maternal:
- Evenemencialidade discursiva significa a acontecimentalidade de um discurso.
É então que a rapariga atira a caneta para cima de mesa e pergunta numa última tentativa desesperada de sobrevivência:
- Aconteci… quê?
A turma riu-se e prometeu passar-lhe os apontamentos no final do ano. A erasmus nunca mais voltou a assistir às aulas.

Gostava que o mundo real fosse uma eterna aula de Teoria do Texto e que eu pudesse um dia atirar a caneta ao chão e dizer aos assessores de imprensa que escrevem os comunicados políticos (em galego): “Eveneme… quê?”

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