O teletexto
4.3.09Hoje tive uma das maiores revelações da minha vida espanhola.
Falando sobre os antecedentes da Internet, o professor pergunta à turma:
- Quem aqui usou o teletexto da última semana?
Eu ri-me. Olhei para baixo e lembrei-me das duas únicas vezes na vida (há muitos, muitos anos atrás) que experimentei carregar nesse botão do comando da TV. Percebi que esta era mais uma daquelas perguntas retóricas que as pessoas que passaram anos sentadas na fila da frente da sala de aula já se habituaram a não cair. Nunca olhar para trás à procura de mãos no ar em perguntas que claramente não terão aderência do público, este é um ensinamento básico para qualquer aluno-primeira-fila.
Mas, de repente, os meus pensamentos são interrompidos por um movimento do lado esquerdo do meu campo de visão.
Estaria mesmo alguém a levantar o braço? Desconcertada olho para o professor com um ar de pânico para que me explique porque havia uma pessoa que, em 2009, estava a admitir que usava o teletexto assiduamente.
E é então que o professor diz com um sorriso de satisfação:
- Bem me parecia
Como assim “bem te parecia?” Não vês que há uma pessoa de mão no ar? - perguntei para mim mesma num diálogo tu-a-tu com o professor – Não vês que isso faz com que a teoria de que em 2009 já ninguém usa o teletexto esteja errada? É então, que num acesso de pânico e terror, resolvo virar a cabeça para trás. O meu mais temível medo confirmou-se: toda a turma tinha o braço levantado.
Eu dou um grito e procuro o olhar consolador das minhas amigas estrangeiras: Que se estava a passar ali?
É então que o professor, ante o nosso olhar de assombro, explica que em Espanha as pessoas são “compulsivamente viciadas” no teletexto.
Gargalhadas estrangeiras. Olhares assustados.
Ele brinda-nos ainda com a informação de que diariamente nove milhões de espanhóis visitam este “botão do comando” e que só o ano passado a Telecinco fez 2,5 milhões de euros em publicidade no teletexto.
Eu olhava à volta, implorando por uma explicação. Os meus amigos espanhóis, com um ar meio acavacado, escolhiam os ombros como que a dizer em bom galego: “eche o que hai”
E esta foi a primeira vez que naquela sala senti que o ET não era eu.
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