Um

26.6.10

Ultimamente tenho pensado muito na minha inaptidão para a matemática. E quanto mais penso, mais claro fica tudo na minha cabeça. Eu nunca tive queda para os números porque, no fundo, as contas são mais uma delirante invenção do homem.
Crescemos aprendendo a pensar que o dia-a-dia é composto por um círculo flexível e complexo de pessoas (que é como quem diz unidades) e relações. Que cada uma tem o seu peso relativo nessa equação interminável a que chamamos vida. Que com o passar dos anos vamos adicionando e subtraindo unidades, vamos mudando a ordem dos factores (que, dizem, não altera o produto) e buscando cifras finais. Dividimos, multiplicamos e fraccionamos. Fazemos contas à vida em cada festa de aniversário. Até que chega o grande momento de emancipação em que finalmente podemos dedicar o tempo que achemos necessário para memorizar a tabuada do dois. A rainha das tabuadas. Tudo recomendação da professora, essa sábia, que jura de pés juntos que o dois é a conta mais importante, a definitiva, a que teremos que saber na ponta da língua para o resto dos tempos se queremos que a nossa equação funcione. Então fazemos exercícios paralelos, conjugamos verbos no plural, pedimos uma tarifa plana de telemóvel, compramos pares de livros, de pequenos-almoços e de passagens de avião.
E então um dia, um iluminado e, talvez, triste dia, percebemos que “para quê tantas contas?” se no fim, sempre, no fim, o resultado da equação será única e inevitavelmente o mesmo: 1.

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