Exercendo o desapego

16.6.10

Vocês podem não acreditar. Vocês provavelmente não acreditem. Mas eu estou a sofrer a ira de todos os deuses e astros do universo. E para evitar ouvir os típicos comentários do “és uma brasileira supersticiosa”, vamos directamente aos factos:
Um dia ia contente e feliz com o meu carrinho pelas ruas da Corunha quando, de repente, pum. Foi tudo muito rápido: um barulho ensurdecedor e o carro que meio que andou para o lado. Sai, meia zonza, meio em estado de choque, para ver o que tinha acontecido. Uma cedência de passagem não cedida. Um carro (o meu) com a lateral toda arrebentada e outro carro (o dela) com uns arranhõezinhos na parte da frente. Bom.
Depois de superado o estado de choque e o tremelique das mãos, cheguei a casa e resolvi ligar o computador para avisar os meus pais que estava tudo bem, que não tinha morrido, essas coisas básicas. E ora é então que… nada. Nem sinal de vida da dita maquina. Extasiada, liguei ao técnico, que me respondeu: “Olhe que esse arranjo vai sair-lhe caro”. A coisa ia bem encaminhada.
E quando começava a adaptar-me à vida sem internet e com um carro amachucado, eis que um dia, num jantar de amigos, o meu relógio faz plof, olha para mim com um ar depressivo e diz-me: adeus. Então dei-lhe um beijinho e pu-lo na bolsa. Quem vive sem computador, também vive sem relógio.
E nesta altura acreditei que todos os meus bens materiais já me tinham abandonado e que já havia superado a prova de desapego material. Até que um dia de manhã, entre uma e outra arrumação, pumba, bati com o pé na cama, dessas batidas normais, normalíssimas, de todos os dias. Mas claro, não se pode duvidar da força dos astros. E horas mais tarde, toca a inchar o dedo, a latejar, a gritar por ajuda. E eu, com muito trabalho para fazer, a tentar ignorar a dor. “Foi só uma batidinha”, pensava. Mas então deixei de poder andar. Arrastava-me de um lado ao outro da redacção com a cadeira de rodinhas e um gelo em volta do pé cheio de pomada. Resisti, mas acabei por tomar algumas drogas que, claro, não funcionaram. Então arrisquei a segunda dose. Digamos que nesse momento a dita dor parou, mas claro, fiquei grog, groguissima, com um raciocino a um por hora. Ideal para os programas em directo. Três dias depois tenho o dedo roxo, inchado e com movimentos limitados. Dizem que me vai cair a unha.
Tudo isto, meus amigos, em uma semana. Agora deixo ao vosso critério. Façam lá da vossa justiça.

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