No deserto urbano

14.9.09

Nestes meus dois dias em Madrid descobri que quando dizemos “Hasta luego” respondem-nos com “adios”, que a Xunta não tem xis e está sinalizada com um éme. O supermercado não fecha à hora do almoço e os shoppings abrem um domingo ao mês (um progresso significativo).
Os dois madrilenhos que conheci hoje disseram-me que eu tinha sotaque galego. Eu respondi-lhe: “Es que soy de Galicia”. E eles contra-atacaram: “Cuándo dices que eres gallega, quieres decir que eres portuguesa?”
Agora quando conto que venho de Portugal já ninguém me presenteia com um “me encanta tu país”. A nacionalidade, de repente, perdeu a piada.
Em Madrid os parques chamam-se “pulmões da cidade”. São castanhos e despidos.
As pessoas queixam-se da falta de chuva, mas pelo menos pode-se dormir com a janela aberta: as melgas não resistem à secura.
Madrid é um deserto urbano.
Por aqui as pessoas estão todas queimadas. Um laranja-solário “precioso”.
Hoje fui ao supermercado e gastei 80 euros. Paguei pela renda do meu quarto o mesmo que pagávamos na Galiza pela nossa casa de três assoalhadas, duas casas de banho, cozinha, sala e lavandaria. Voltei para casa e confortei-me no meu vício: é que por aqui as gomas são mais baratas.
Na Galiza havia os autocarros (que raramente compensavam) os táxis (que só conheci com a tarifa nocturna) e os pés. Em Madrid há o metro e o metro ligero (15 linhas no total). Também há os autocarros (que me levam ao centro em “apenas” 20 minutos), os táxis (que desde o aeroporto custam 30 euros) e os Buhós (ainda por testar). Em Vigo os “autobuses” chamam-se Vitrasa, aqui o comboio tem o nome de Cercanias.
Hoje um amigo perguntou-me: “E vais conseguir trabalhar para uma produtora sem ver televisão?”. Eu hesitei um pouco e depois respondi-lhe: “Não deve ser um vício difícil de apanhar”.
Ao pensar em tudo isto lembrei-me de um tema de reportagem para propor. Mas, a partir de agora, quem as vais escrever já não vou ser eu.

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