Gravando!

22.9.09

Até foi rápido. Foi só preciso trocar o circunflexo do platô e dar-lhe um agudo bem em cima do o. “Um grampo na cabecinha da avó e um chapéu para proteger a nuca do avô”, foi como aprendi os acentos quando andava na escola. Sendo assim, este platô tinha a franja nos olhos e precisava de um grampinho.
Depois foi preciso assimilar que por aqui a “ofi” é a “oficina” que, por sua vez, não arranja carros, mas é o nosso escritório de computadores “Acer” com problemas de ultra sensibilidade. Seguindo neste mundos dos calões das pessoas apressadas, não há tempo para dizer “representante”. Eles ficaram, então, designados como “repres” e cada actor tem um. São chatos e acham-se importantes (os repres, há que esclarecer).
Voltando ao nosso assunto de hoje, o primeiro ensinamento que eu daria a um novo trabalhador desta empresa/mundo seria aprender a sussurrar. Na verdade, perguntaria isso logo na entrevista, assim, de cara podre: “sussurre aí uma frase”, a ver se se percebia bem o que o dito cujo queria dizer. Menos mal que não me pediram tal coisa, que os que me conhecem sabem que tenho graves problemas em falar baixo e articular palavras (essa foi a grande sorte dos meus professores, já que sempre que dizia alguma “cabula” nos testes, recebia de volta uma careta que gritava sem som: “ahm?”). É que por aqui, quando a luz vermelha acende, não podes andar, nem mexer-te, nem espreitar. E tens de falar em mute. O problema é que o raio da luz está sempre em on e eu estou constantemente a receber as famosas caretas-ahm.
Durante esta semana também aprendi que por aqui decoração não é coisa de tias. É trabalho duro de carpinteiros em tempo record. Também há seis motoristas e catorze actores, muitos contractos e, principalmente, muitas clausulas de contractos. Favor sabe-las todas de cor. Por fim, há que salientar que isto não é religião, mas também tem bíblia. Há que lê-la e decora-la bem decoradinho, porque sempre pode chegar um “bastardo” de um jornalista e perguntar-te sobre um detalhe da serie que te esqueceste de estudar. “Vou consultar com a direcção e já lhe volto a ligar” é uma resposta que fica sempre mal. Mas o melhor é que agora quando soltam a típica do “nós os jornalistas estamos sempre com pressa” eu respondo sorridente: “pressa e a nossa especialidade”. É que há anos que sonho em receber esta resposta, e agora, quem sabe, possa fazer alguém feliz.

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