La doble fila

25.8.09

Há um fenómeno por aqui que me irrita especialmente. É chamado carinhosamente de “doble fila” e consiste em parar o carro no meio na estrada, pôr os quatro piscas e ir passear. Sim, isso mesmo.
O problema é que hoje à hora do almoço eu não estava no meu melhor momento. Tinha fome, sede e calor. Um artigo enferrujado para escrever à tarde, um telefonema pendente, uma futura discussão com o chefe que já não havia como evitar. Na rádio só contavam desgraças e eu tinha ainda o almoço por fazer e a roupa por lavar. Foi então que o carro que está a minha frente na estrada resolve “armar-se em espanhol” e, sem nenhum aviso prévio, pára o carro, puxa o travão de mão e liga os piscas. Eu, que vinha atrás dele, tenho de travar bruscamente e, segundo o código de honra das estradas espanholas, deveria contornar o seu carro, passar um traço contínuo e entrar em sentido contrário para poder, assim, continuar a minha viagem a casa.
Mas, como já tinha dito, eu estava a ter uma má hora de almoço. Decidi então descontar todo o meu mau humor no tráfego espanhol. Parei o meu carro atrás ao do senhor e, ao invés de contornar o obstáculo, pus a mão na buzina e esperei.
Seguiu-se um “Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii” contínuo que fez com que os comerciantes saíssem à porta. O motorista da frente não queria acreditar. Olhou para trás, fez um gesto para que eu ultrapassase o seu carro e eu nem pestanejei: “piipiiiiiiiiipiiiiiiiiiii” foi a minha resposta. O condutor, atónito, resolveu tirar o carro dali e eu, inspirada pela boa acção que tinha acabado de fazer ao trânsito espanhol, resolvi no percurso do trabalho até casa buzinar a todos os carros parados em “doble fila”. Foram exactamente 17 buzinadelas em um trajecto de 5 kilómetros.
Cheguei a casa feliz e realizada. Tinha descoberto uma nova forma de afastar o meu mau humor.

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