Bem-vindo à minha vida

17.8.09

Eu bem sabia que aquela noite em claro não me faria bem, que naqueles dias inteiros a trabalhar deveria, pelo menos, ter almoçado. Bem me avisaram que não valia de nada gritar, espernear, insultar até à exaustão aquele chefe não presente.
Já me tinham dito que as lágrimas choradas naquela casa de banho pública deixariam as suas marcas, que daquela vez que duvidei deveria ter instantaneamente perguntado para não andar meses a especular em pesadelos recorrentes.
Já sei que me alertaram que não deveria dormir com o telemóvel debaixo da almofada nem apanhar sol ao meio-dia. Cuidar do cabelo, hidratar a pele, pentear-se. Tudo muito bonito da teoria.
Sempre soube que tinha de aprender a deixar de levar o peso do mundo nas costas. Que tinha de me separar mais dos problemas que me rodeavam, que precisava encarar a vida menos seriamente. É a culpa cristã, diziam os meus amigos. Mas eu só concordava parcialmente com eles.
Tinha de ter sido mais flexível, mais boa onda, mais bom feitio, menos exigente com cada um dos objectivos a que me tinha proposto. Mas não fui. Tinha de ter estudado como controlar os sonhos, relaxar a mente, concentrar-me com mais facilidade. Não o fiz.
Foi então que, inevitavelmente, hoje encontrei o meu primeiro cabelo branco. Queria aproveitar para lhe pedir desculpa pela sua nascença prematura e contar-lhe uma coisa que, quem sabe, pode reconforta-lo: quando tinha 15 anos passei por 21. Agora tenho 22 e todas as pessoas me dão 27. Se acreditarmos na sabedoria popular, já estou perto dos 30 o que, dada a quantidade de tinta que tenho no cabelo, deve ser uma época bastante normal para te trazer ao mundo. Portanto, novo cabelo branco, terás que contentar-te com esta humilde recepção:
“Bem-vindo à minha vida, meu caro. Prometo que ainda nos divertiremos muito juntos. Não me deixarei influenciar pela cor da cabeleira.”

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