Gorgeous

17.8.09

Desde que estou em Vigo já dormi com fogueiras na praia, já tomei o pequeno-almoço na lota, já provei que era possível comer por um euro e até já fui entrevistada pela BBC. Mas a história da minha estadia nesta cidade olívica estaria incompleta se não mencionasse o dia em que o Leonard Cohen pousou nestas paragens.
Era o concerto do verão. Entradas esgotadas ha meses, dispositivos policias a mercê do pai do hallelujah, nos cafés e nas ruas era o assunto estrela. Mas havia um problema para este jornal com síndrome de “segunda-semana-de-agosto-os-políticos-estão-de-férias”: o Leonard Cohen não dá entrevistas. Era uma quinta-feira de manhã e lá chego eu à redacção pronta para mais um dia de namoro com as palavras para compor a minha reportagem de fim-de-semana. “Marina, o Cohen não dá entrevistas, vai entrevista-lo”, disse-me o meu chefe quando entrei pela porta.
E assim começava mais um dia lendário.
As seis horas que passei a porta do seu hotel armada em paparazi são só uns ingredientes mais para a lenda que contarei os meus pobres filhos. A barriga a roncar de fome, o fotógrafo que assustou a estrela, a conversa maliciosa com os seus assistentes são apetrechos auxiliares que devem ser contados em quantidades “dosificadas” para manter o público concentrado. Porque o que interessa realmente contar aos meus leitores sedentos de novidades foi o momento em que, depois de relatar esta longa e auspiciosa aventura ao meu chefe, ele gritou para a redacção: “Ela entrevistou o Cohen”. E eu gritei de volta: “E ele chamou-me gorgeous”. Desde então, todos os dias sou recebida com o mesmo cumprimento:
- Qué tal gorgeous? Cómo va Leo?

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