A "subasta" da "lonja"

8.2.09

Foi um dia que ficará marcado ma minha memória de estudante. O dia em que aprendi duas novas palavras numa mesma frase.
- ¿Queréis venir a la subasta de pescado en la lonja? – perguntou a professora.
- Sim! Claro que sim! – respondi entusiasmada.
Uma pessoa que sai do seu país, estabelece-se numa nova cidade, inscreve-se num mestrado e começa a construir uma vida do zero, não está em posição para negar as propostas educativas dos professores. Claro que quero ir à “lonja” ver a “subasta”. O que quer que isso signifique.
- É tipo aquilo que fazem para vender os quadros, mas com peixe – explicou-me uma amiga.
Um leilão de peixe na lota, portanto. A minha cara perdeu por alguns minutos a expressão de entusiasmo e voltei a centrar-me no que a professora estava a dizer.
- … então encontramo-nos às sete da manhã na lota …– é impressionante como a coisa foi ficando menos e menos interessante.
Dia seguinte. Seis da manhã. Toca o despertador. Cheguei à cozinha e lembrei-me dos conselhos de um amigo: “Nesse dia não bebas leite ao pequeno-almoço para não enjoar com o cheiro a peixe”. Optei por umas tostas com manteiga.
Chegando à lota (e depois de ter ficado com nódoas negras na perna por causa do temporal de granizo que estava a haver naquela manhã), descubro que da turma de 15 pessoas só houve seis alunos corajosos que haviam madrugado para essa “excitante” visita de estudo.
Na lota às seis da manhã é como se fosse três da tarde. Não há olhos de sono, nem caras amassadas. Há ventilação central, o que alivia o cheiro, e mais de uma centena de pessoas a negociar… peixe.
Nas paredes avisos que dizem “Não pisar ou cuspir nos peixes”. Mas na lota da Coruña ninguém obedece a esses avisos. Não há luvas nem cartão de crédito e a mesma mão que toca no dinheiro verifica a qualidade do peixe. Nos pés, aquelas galochas brancas que usam as senhoras da peixaria do supermercado. Com a diferença que as galochas da lota da Coruña estão um pouco mais a tender para o cinzento e são usadas para pisar “ao de leve” o peixe para ver se está fresco.
“É a lota mais higiénica da Galiza”, explica-nos um dos seguranças.
O leilão da lota funciona ao contrário. “10,90; 10,80; 10,70; 10,60; 10,50; 10,40; 10,30; 10,20, 10,10”, grita o leiloeiro vendendo o preço do quilo do peixe a uma velocidade humanamente impossível. Os leiloeiros são homens com muitro prestigio na lota, contam-nos, é preciso muita experieicia para leiloar bem. Cada leilão dura cerca de 2 minutos e acontecem dezenas de mesmo tempo. “Há especialistas em leilão de peixe que são contratados pelas grandes empresas só para comprar o melhor peixe ao menor preço”, conta o nosso “guia”.
E nós ali, sem galochas, sem dinheiro na mão e sem autorização para pisar ou cuspir na valiosa matéria-prima. Em uma hora estava tudo acabado. As peixeiras foram abrir os mercados, os grandes empresários foram “dormir a cesta” e nós voltámos ao estudo como se a “lonja” fosse apenas uma parte de um sonho demasiado real.
Um sonho onde as pessoas acordam as 3 da manhã e pisam no peixe que vamos comer à hora que eles voltarem para a cama.

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