Domingo
15.2.09Quando eu era criança, domingo era dia sagrado. As minhas amigas queriam sempre combinar brincadeiras para esse dia e eu respondia que não dava, mesmo antes de perguntar aos meus pais. Domingo era dia de família. Era de sair de casa de manhã e fazem 500 quilómetros para ir almoçar ao Alentejo. Era dia de ir jogar bowlling à tarde e ver um filme com um saco de gomas de 200 escudos e um copinho de coca-cola. Era o dia em que íamos com caretas à missa e quando saímos o meu pai perguntava-nos sobre o que é que tinha sido o sermão do padre. Era dia de teste de concentração.
Depois fomos crescendo e domingo transformou-se em manhãs de caminhadas no paredão e tardes de estudo que deixavam o pulso dorido. Domingo era dia de suspirar porque ainda faltava uma semana para que fosse sábado outra vez.
Ate que houve aquele ano em que sem família, nem estudo, domingo era dia de passeio de braço dado pelas ruas movimentadas, de horas à espera do click perfeito, de espectáculos de rua e um gelado de chocolate. Mas passou depressa. Depressa demais.
De regresso à realidade, o domingo voltou a ter gosto de maresia e batatas fritas. As tardes eram passeios pela baixa pombalina, inaugurações de museus e um ou outro café com scones e chocolate quente.
Agora sinto que não dei importância suficiente a todas as diferentes versões de domingos familiares que tive ao longo da vida. Porque em Espanha, domingo também é dia de família. Mas nos domingos espanhóis não se pode jogar bowlling, ir ao café, ao cabeleireiro, ou fazer compras. Porque domingo é dia de ficar em casa. Até para os comerciantes.
Institui, então, que domingo seria dia de limpar a casa, lavar a roupa, arrumar o quarto e pintar as unhas. Que domingo seria dia de enfrentar o ecrã do computador, mergulhar nos livros e blocos de nota. Que no domingo iria ler todos os jornais e ouvir os meus podcasts preferidos. Mas hoje dei-me conta de que isso não tem lá muita graça.
Porque domingo é dia de família. E por mais que eu me tente enganar, a minha não está por aqui.
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