Quando as palavras saem do armário

10.2.09

Ultimamente tenho pensado muito sobre as opções sexuais das palavras.
E cheguei a uma conclusão: as palavras não deveriam poder ser gays.
Uma pessoa convive a vida toda com “a água”, imagina-a com um batom cor-de-rosa a comprar um vestido novo nos saldos. A água é delicada e fala baixinho, usa brincos de pérolas e sapatilhas de boneca.
E “a arte”? Durante toda a nossa vida imaginámo-la com o seu fato executivo cinzento-escuro, cabelo apanhado e uma pasta de documentos na mão. Vemo-la passear pelos museus de salto alto para que façam tic-tic nos corredores. Tem apertos de mão confiantes e unhas pintadas de vermelho.
Mas não é só com as mulheres. Vejamos o sal, por exemplo. Aparece todos os dias com o seu ar branco e granulado e faz-nos companhia nas refeições. Um velhinho de voz tremula e tosse acatarrada. De corcunda grande e passinhos de formiga.
E é então que um dia aparecem os espanhóis. Vêm ter contigo e dizem-te: “Minha menina, aqui no nosso país as palavras decidiram sair do armário”
A água virou menino traquina, a arte um empresário bem sucedido e o sal uma senhora com os dentes borrados de batom.

Como se não me bastasse o trauma do dia em que descobri que em alemão "as crianças" são assexuadas…

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