R.I.P

25.8.10

Como são duras as separações! Agora que já não estás, lembro-me com melancolia de todo o tempo que passámos juntas. Uma vida!
Recordo aquelas longas caminhadas cheias de bolhas e feridas. Os dias de praia com areia a deslizar pelos dedos. As viagens, quantas viagens. Lembro-me daquela vez que estiveste doente e eu passei dias a cuidar de ti. Não te enganes, eu não me queixo. Foram momentos de estreitar laços, de valorização da tua existência, momentos só meus e teus. Nossos.
Nunca me vou esquecer da nossa guerra pelos sapatos. Havia aqueles que não gostavas (mas que eram tão bonitos!) e discutíamos sempre que eu os punha. Dizias que o conforto vinha sempre em primeiro lugar e eu, teimosa, insistia no bonito barato.
Agora foste-te. Melhor assim, já não suportava ver-te ai, oca, sonsa, aguentando uma existência sem sentido. Tudo culpa de um acidente fatal, dizem para me confortar. Mas nada me conforta.
Nada te substituirá. Nada substituirá a unha do pé que hoje perdi.
Rest in peace, unha do dedo grande, requiescat in pacem.
Dizem que dentro de um ano nascerá uma nova unha neste dedo de carne que actualmente ostento. No entanto, tenho a certeza que nenhuma será tão especial como tu.
Eram dez, agora são nove. Sentiremos a tua falta.
Falo por mim e pelos sapatos e meias deste mundo. Como é obvio.

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