"Suerte"

8.6.09

Como sempre, tudo se passou numa espiral descontrolada de acontecimentos.
De repente as aulas tinham acabado, as infinitas horas de trabalho culminavam em duzentas páginas encadernadas debaixo de chuva, e a despedida… ah, eu nunca fui muito boa para despedidas.
A vida ensinou-me que não existem adeus definitivos e que é muito fácil subornar os pontos finais para que se transformem em vírgulas. “Suerte”, dizíamos e continuávamos a caminhar, sem olhar para trás, sem tropeções ou soluços.
E veio uma festa e outra festa. Chegou “a última festa” e eu festejei sem aperceber-me. A mala fez-se sozinha ao som do Bob, esse nosso companheiro de angústias, que sabiamente nos diz com a sua harmónica que o vento nos trará as respostas. O vento e esta chuva que insiste em acompanhar-me para onde quer que eu vá.
Na viagem tentei pesar na balança este tempo que já passou, mas um dos pratos não aguentou o peso da responsabilidade e espatifou-se no chão. Enquanto recolhia os cacos desse tempo passado, descobri que já tinha chegado o presente.
E assim, sem mais nem menos, começou uma nova vida.
Eu fui sempre desajeitada para despedidas, mas não faz mal, porque cada adeus se faz acompanhar por um sincero “bienvenida”.

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