orgulhosos 31%

10.9.08

Hoje tive o telefonema mais interessante da minha vida jornalística.
Todos nós temos alguns assuntos que nos são mais queridos, uma temáticas às quais somos mais sensíveis. Eu tenho algumas. Poucos foram os meus amigos que nunca me viram discutir (acaloradamente) sobre a homossexualidade, o racismo ou a liberdade de expressão. Mas existem mais temáticas que põem logo a sirene a tocar.
Esses outros temas “mais esquecidos” desde há algum tempo me preocupam. Afinal porque é que “deixo passar” essas discussões e faço um sorrisinho cínico só para não me irritar?
Resposta simples: aparecerem vezes demais na rotina do dia-a-dia.
Mas hoje não houve como escapar.
Estou a fazer um trabalho sobre as politica de responsabilidade social das empresas. (Sim, é um trabalho manhoso e, sim, as empresas são todas muito responsáveis blablabla)
Estava eu a passar os olhos pelo relatório de responsabilidade social da Auchan e fui atraída por um número.
Vinha assim, em tópico, como se nada fosse.
«31% dos nossos cargos directivos são mulheres».
Pára tudo. Volta atrás.
Contexto: O número surgiu em resposta ao tópico: «Exemplos de acções desenvolvidas na área da responsabilidade social». E entre doações de alimentos a obras de caridade e construção de escolas para crianças necessitadas, lá estava outra acção de responsabilidade social que o Grupo Auchan tanto se orgulhava: dar cargos de topo a mulheres.
Os briefings lá tiveram de me ouvir berrar, espernear, revoltar-me ficar vermelha, sair da redacção e, por fim, ligar para o grupo Auchan:
- Acho que está um engano aqui nas vossas respostas.
- A serio?
- Não sei.. mas a mim não me parece que mulheres em cargos directivos seja uma acção de responsabilidade social.
- Ah não. Veja bem, não era isso que queríamos dizer...
A minha chefe não aprovou a ideia de colocar isso no texto. Felizmente estou de saída. Não quero mais jornalismo a brincar.

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