Certezas

30.6.18

Lá vêm elas, cheias de certezas, opiniões. Sabem mais que o médico, que o ecógologo, o tocólogo, o nutricionista e a enfermeira. Elas sabem porque foram a conferencias, fizeram cursos, leram na internet. Sabem porque têm o instinto aguçado, confiam nas suas intuições. Fazem perguntas técnicas, planos de parto, estratégicas metodológicas sobre “lactância infantil”. Dão conselhos que são autênticas ordens. Faz isso. Não faças este outro. Isto sempre. Nunca. Jamais. E quando lhes dizem que vão ter uma menina elas dizem que não, que veja bem, que elas têm a certeza que é menino. O médico revira os olhos, bufa, volta a olhar... E não é que era mesmo menino? Quando lhes dizem que o seu bebé é pequeno, elas dizem que isso é impossível. Que só pode ser um erro médico. Que o ecógrafo estava distraído, que o exame foi feito à pressa, que querem outra opinião. Exigem uma segunda ecografia. O seu filho não é pequeno. Seria melhor substituir o médico por um algoritmo. Da interpretação dos dados, já se encarregam elas. E é aqui que eu entro. Que nós entramos. Sem certezas nem instintos. Será que isso existe realmente? Sem um sim absoluto, nem um não rotundo. “Confiamos na ciência”, diz ele. Vamos aos cursos sem grandes perguntas. Quando dizem descanso, descansamos. Primeiro à nossa maneira e depois de forma absoluta, sem gretas, com contadas exceções. Para nós espera significa esperar e descansa significa descansar. Comer bem quer dizer legumes, vegetais, frango assado e peixe no forno. Relaxar é fazer yoga de manhã, ler muito e dormir mais. E estás a ler sobre o parto, o percentil, as contrações, a subida de leite e a educação Montessori? Não. Estou a ler Ishiguro. E vou retomar o blog.


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