Perspectiva

4.10.16

Ás vezes é mesmo disso que precisamos. De tempo. Pôr a vida em automático e deixar os dias correrem à sua própria velocidade. Não insistir. Não forçar. Esperar.

A épica não vem de contar e recontar histórias. A palavras são, tantas vezes, pobres portadoras de sentimentos. Porque com o verbo vem a hipérbole, o eufemismo, a metáfora. O falar bonito. 
Isso não que rima com coração. Ler, escrever, ver. Gosto demasiado do verbo viver. Censura à segunda conjugação. Assim nunca vai acontecer. 
Tentas contar as histórias e sempre ficas pela metade. Porque as palavras são curtas e o tempo também. Toca o telefone. Vem o café. A criança cai. Quer outro gelado? O puto chora. Pode me dar uma moedinha? Já é tarde, tenho de ir.
As batalhas a meias contam como perdidas. As mal contadas, como derrotas. E as eternas, como aborrecimentos impagáveis. Lose-lose situation. 
E é então que vejo aquela foto. Uma familia que não sei quem é, num país que realmente nunca conheci. Não conta nada daquele hotel com baratas, do banho de agua fria, da amiga que não gostava, da noite passada a ouvir conversas de outros. Da solidão, do silencio. Do "where do you come from" de cada noite. É só uma gente desconhecida numa paisagem exótica e, no entanto, faz sentir tão profundo. Deve ser da perspectiva. 

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