Eu durmo.
É uma daquelas qualidades que pai e mãe não babam aos amigos, nem vem nas aptidões do currículo. Mas devia.
Porque enquanto os outros vem "tele-basura", dão beijinhos na almofada, desperdiçam horas de actividade mental dando voltas e voltas aos mesmo assuntos. Eu durmo.
No avião, no carro, na praia. Na minha cama ou em cama alheia. Sem cama.
Fecho os olhos. Durmo.
Sou pouco rentável para os chás de tília, para os ginásios nocturnos e para as conversas de meia-noite.
Não sou delicada, agradável, rica ou sei lá se sou especialmente fértil. Quando alguém se aproximar e perguntar-me as minhas principais virtudes. Já decidi. Vou só dizer.
Eu. Durmo.

Nova Temporada

Volto das férias com uma sensação de nova temporada. De etapa terminada, etapa a começar. Vivo estes últimos dias com expectativa. De meses prometedores, trabalhos exigentes, recompensadores. Pára de pensar nisso, ainda estás de férias.
Eu sei, mas uma nova etapa está quase a começar.
Sou uma menina à espera do primeiro dia de aulas do quito ano.

O cavalo

Os 40 graus nos perseguiam e tambem as criancas que gritavam Hallo. Mas agora ja nao eramos 3. Tinhamos companhia.
O stranger.
E foi quando estavamos sentados num bar a espera que o sol se pusesse e chegasse a melhor parte do ramadao (a comida), que ele propos jogar um jogo. Nos, portugueses educados, nao pudemos negar. Imagina um deserto com um cubo, uma escada, um oasis e um cavalo.
Imaginado.
O cubo e o teu ego (grande e transparente). A escada como os outros podem chegar ate ti (acesivel, robusta). O oasis o teu lugar seguro, a tua tranquilidade (fresco, proximo e usado com frequencia).
E entao um deles *eu* comeca a gritar. Nao, nao, nao, nao quero continuar a jogar.
Por que?
O cavalo. Tenho medo. Nao quero saber.
Risota.
E ele diz com aquela voz grave que o caracteriza.
O cavalo, como devem imaginar, e a pessoa da vossa vida. A vossa alma gemea, I mean.
Alguem *eu* comeca a rir-se. A rir muito. Os outros contam que os seus respectivos estao ali, deitados ao pe da escada, a beber agua do oasis.
Digo que nao gosto desde jogo.
E entao confesso. Este cavalo *o meu* era um cavalo livre. Eu via-o ao fundo, bem ao fundo do meu deserto, a correr sem rumo e eu nao podia alcanca-lo.
Um silencio na mesa. Uns olhares desconfortaveis. Uma proposta para comprar um gato.
Mas, again, isto era so um jogo. Um jogo psicologico.

o homem descansa

Chegamos com as malas leves e a barriga vazia. A cerveja chama-se Efes e a comida Kebab. Enfrentemos a realidade. Brindamos a nos e aos outros. E Tesekkurler/ Obrigado/
Dancamos no telhado e *dizem* fomos os reis da festa. Dois reis e uma rainha.
Foi tambem no telhado onde dormimos. Debaixo das estrelas (e de uma rede de mosquitos). E ali (no chao do telhado) acorda-se cedo. Os 40 graus nao perdoam. Mas tambem nao perdoam as obrigacoes de uma mulher de saia comprida e cabeca tapada *eu*.
As 7 da manha e preciso fazer o pao. Amassa a massa. Estende a massa. Cozinha a massa. Paozinho quente para todos. Homens, toca a acordar.
E comemos tomate, pepinos e beringela. Sempre tomate, pepino e beringela. Isso e uns iogurtes amargos que eu nao tenho coragem de tragar. Uma sesta e a mulher volta ao ataque. Ordenhar a ovelha.
Tambem posso, diz ele
Claro que nao, respondem ofendidos, isso e trabalho de mulher
E o homem o que faz, pergunta o turista sedento de novas experiencias.
O homem descansa.


sonra görüşürüz

A vida em 20 minutos

Hoje, enquanto passava as fotos de um computador a outro, vivi a minha vida em frames de 1 segundo. Não tive sequer tempo para respirar. Quando acabava um suspiro já tinha passado um mês, às vezes um ano. E então dava uma gargalhada, mas durante o sorriso algo me fazia querer chorar. Quando acabou tive um sentimento estranho. Estava cansada da intensidade daquele momento. Desconcertada por voltar a ver um eu que já não reconheço. Abalada por ter vivido tanto em tão pouco. Cinco anos em 11.200 fotos. E que GRANDES anos.

Hola.

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