As nacionalidades

18.7.11

Eu falo sempre disto e toda a gente diz que me entende. Eu falo sempre disto e acho que quase ninguém me entende. Ser imigrante não é fácil. Ser imigrante trabalhadora num país de 5 milhões de desempregados é pior.
Às vezes dizem-no e outras deixam-no no ar. Às vezes dirigem-se a ti e outras esquecem-se que estão a falar de ti. "O país já está como está e ainda vêm os imigrantes a tirar-nos o trabalho". Esta ouvi num taxi. "Por que é que TU tens trabalho e EU não?". Esta foi enviada por email. "Posso saber o que a senhora faz em Espanha?". Esta disse-me o polícia que logo depois resolveu registar o meu carro (porta-luvas incluído).
São parte do meu dia a dia e eu engulo-as. Vou engolindo. E sempre que chego a algum lado, a pergunta quebra-gelo. "E tu de onde és?". E é nessa altura que me apetece gritar-lhe e dizer: "Sou tanto daqui como tu". Trabalho, pago os impostos, consumo, critico, voto, manifesto-me, ajudo, viajo e divulgo. Sou igual, pior e melhor que todos os outros residentes nesta cidade, neste país e neste continente. E se não tens trabalho, pega nas tuas coisas, e vai ocupar o meu posto em Portugal, no Brasil, em Itália ou de onde quer que eu seja. Porque não sou de nenhum lado. Ninguém é de nenhum lado.
Já estou farta das nacionalidades.

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