Essa cabeça

Vou levar aqueles calções e aquela saia. Esta fica melhor com aquela camisola. Preciso comprar uns tenis, uma t-shirt e um protector solar. Levo ou não levo secador?. Sandálias, chinelos e casaco. !Que mochila tão grande!. Só espero que o cartão de crédito funcione. Passaporte. Ah, e um presente para a Çaglar. Saudades dos amigos. Praia, bikini e roupa confortável.
Quero lá saber de política: bem-vindos à minha cabeça.

As escolhas

Ultimamente tenho pensado muito nisso. Nas escolhas.
Porque de repente vais lá e recebes um shot corrosivo de realidade. Daquela que poderia ter sido a tua realidade. Vais lá, olhas à tua volta, e reconheces aquilo. Uma sensação de passado, um gostinho do que podias ter sido. E abdicaste.
Aquelas pessoas, aquele andar, aquela forma de estar na vida. Penso que eu poderia ter sido assim. Poderia sentir-me integrada naquele mundo. Poderia acreditar naquela felicidade.
Mas não sou.
Tenho uma tendência para olhar para o passado com alguma arrogância, superioridade. O presente é melhor e do futuro nem falar. Mas daquela vez não senti isso. Senti apenas nostalgia.
Nostalgia de uma vida que já não me pertence. Se calhar nunca me pertenceu.
Nostalgia de um presente que poderia ter sido.
Dessa vez não me senti melhor, nem pior. Só parei e pus-me a pensar nisso. Nas escolhas.

Nomes telefónicos

Passou-me duas vezes esta semana.
- Pera ai que eu ligo ao teu namorado e já resolvo isso.
A minha amiga estava ocupada, então pego no seu telemóvel e procuro o nome do dito cujo. E não é que vou à agenda e o nome não esta? Opção B. Vou ás ultimas chamadas e, como era de prever:
- É este que põe Cariño?
Sim, diz ela com naturalidade.
...
Depois foi um telefone que tocava na redação.
- Não-sei-quantas ta a tocar o teu telefone!
- Vê ai quem é.
- É...... hmmm.... o "pequenino".
- Ah, deixa que eu ligo-lhe mais tarde.
E continuou o seu trabalho como se nada tivesse acontecido.
Estas são as mesmas pessoas que depois acabam com os namorados, zangam-se e substituem esses nomes apaixonados por: "Não atender".
(conclusão baseada em factos reais)

O limbo dos ets

Foi no meio de uma reflexão sobre a vida que eu disse.
Na vida há dois tipos de pessoas. As que sabem que querem casar, ter filhos, um cão e um jardim. E as que têm a certeza que não querem nada disso. Preferem a independência, as viagens e a liberdade total.
Ele respondeu.
Há esses dois grupos e depois há os do limbo. Os que não sabem o que querem até o presente acontecer.
Eu.
Mas esses são poucos. Toda a gente sabe sonha com um futuro. Nós somos uns ets.
Ele.
O limbo são todos. Os outros são ets.

Hasta luego Vía V

Foram 163 programas. A nossa primeira temporada completa. De lunes a jueves. Todos os de-lunes-a-jueves do ano. Passasse o que passasse. E passou tanta coisa. Houve eleiçoes, escandalos, corrupçao, roubos, assassinatos e reformas do governo. E nós estavamos ali para debater, discutir e analizar. Afinal somos "uma tertulia". Um programa serio. Mas nao tao serio. Uma hora e meia que tem a nossa cara.





E foi assim que ontém nos despedimos até setembro. E voltaremos com muitas novidades.
Já vos disse que adoro o meu trabalho?

As nacionalidades

Eu falo sempre disto e toda a gente diz que me entende. Eu falo sempre disto e acho que quase ninguém me entende. Ser imigrante não é fácil. Ser imigrante trabalhadora num país de 5 milhões de desempregados é pior.
Às vezes dizem-no e outras deixam-no no ar. Às vezes dirigem-se a ti e outras esquecem-se que estão a falar de ti. "O país já está como está e ainda vêm os imigrantes a tirar-nos o trabalho". Esta ouvi num taxi. "Por que é que TU tens trabalho e EU não?". Esta foi enviada por email. "Posso saber o que a senhora faz em Espanha?". Esta disse-me o polícia que logo depois resolveu registar o meu carro (porta-luvas incluído).
São parte do meu dia a dia e eu engulo-as. Vou engolindo. E sempre que chego a algum lado, a pergunta quebra-gelo. "E tu de onde és?". E é nessa altura que me apetece gritar-lhe e dizer: "Sou tanto daqui como tu". Trabalho, pago os impostos, consumo, critico, voto, manifesto-me, ajudo, viajo e divulgo. Sou igual, pior e melhor que todos os outros residentes nesta cidade, neste país e neste continente. E se não tens trabalho, pega nas tuas coisas, e vai ocupar o meu posto em Portugal, no Brasil, em Itália ou de onde quer que eu seja. Porque não sou de nenhum lado. Ninguém é de nenhum lado.
Já estou farta das nacionalidades.

Noites

Às vezes o dia é só uma noite.

The euro Song

Depois do assassino financeiro, agora a Cançao do euro:








GENIAL!

Ex assassino financeiro

Um ex assassino financeiro explica-nos como se destroi um país:

Alegre

Depois de uma boa noticia na sexta. De "estourar" o cartão de crédito no sábado, de comer a "melhor tortilla de espanha" e dormir a sesta no parque no domingo. Hoje sinto-me no direito de estar de ressaca e de unir-me a este clube:


Autch!





33 pontos para Hoogerland

NOW

"IT is Sunday afternoon, preferably before the war. The wife is already asleep in the armchair, and the children have been sent out for a nice long walk. You put your feet up on the sofa, settle your spectacles on your nose and open the News of the World."
Pelo jornalismo de verdade. Goodbye.

Quem paga é o Estado

Ontem pela primeira vez na vida recebi dinheiro do estado. Convidei os meus amigos para almoçar no melhor japonês da cidade. À noite fomos beber cerveja e hoje vamos ao Ikea decorar a nossa casa. E, desde então, a frase mais popular de todas as conversas é: "Não te preocupes, não sou eu que pago, quem paga é o Estado". Uma sensação inexplicável.

Second paragraph

Num momento em que mais do que nunca se discute os limites da nossa profissão, dei comigo a pensar em Billy Wilder e a síndrome do segundo parágrafo.

Who the hell's going to read the second paragraph?


Códice calixtino

Hoje a Galiza foi noticia em todo o mundo. Roubaram (dizem que é mais adequado dizer furtaram) o Códice Calixtino da catedral de Santiago de Compostela. Uma obra do século XII de valor incalculável.

A fechadura nao tinha sido forçada e nenhuma das camaras de segurança estavam apontadas para a caixa forte. A obra nao tinha seguro e só tres pessoas tinham acesso ao lugar onde estava guardada.
Sinto-me num livro de Dan Brown.

Chamem-me Dramarina.

Caracol



A vida não é para os apressados.

Carros

Estávamos a falar de carros e dos problemas (e prejuízos) que eles dão.
E eu disse:
- Os carros, já sabes, são como....
Ela não me deixou acabar a frase e se precipitou:
- .... Como as pessoas. Umas saem bem e outras saem mal.
Eu ia dizer que era como os computadores, mas gostei da analogia. E eu conheço uns quantos (carros? computadores? pessoas?) que saíram - bem - mal.

Los 5 millones

Então um dia a minha amiga chega ao trabalho e a chefe pergunta-lhe se quer ir tomar um café. Ela estremece e diz que sim. Chegam la e falam do tempo. Como já é verão e ainda faz frio. E a minha amiga pressiona. "Então chefe, o que é que me queria dizer?". A cara da chefe congela e começa num choro compulsivo. "Gostamos muito do teu trabalho. Mas estamos sem dinheiro. Não temos clientes. Estamos falidos". A minha amiga consolou-a e disse-nos que agora tem dois anos de subsidio de desemprego.
E chega o dia em que o chefe de um colega pergunta-lhe se ele pode ir falar com o diretor. Com as pernas a tremer, entra no escritório. O diretor conta-lhe como está contente com o seu trabalho. O tal colega suspira. Como ele cresceu e melhorou neste últimos meses. Ele esboça um quase-sorriso. E então o diretor olha-o nos olhos e diz: "Mas...". O meu colega conta que não ouviu nada a partir dai, mas depois desse dia nunca mais ninguém o viu naquela empresa.
Esta amiga era também, por coincidência, amiga do seu chefe. Ele disse-lhe que, sim, que não ia haver nenhum problema para renovar o seu contrato. Então ela também renovou. Contrato da casa, do telemóvel, da internet e até daquela relação desastrosa que ela insistia em manter.
Um semana antes do dia D: "Então chefe?". Ao que ele responde. "Passa à tarde aqui na minha sala, que temos de falar". Antes da reunião ela mandou-nos uma mensagem que só dizia uma palavra: "Merda". E como tem um contrato precário, nem tem direito a subsidio.
Eso, mis amigos, es España.

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