Apelar ao sentimento.
2.2.11Tinha um almoço marcado, uma tosse insuportável, uma dor de cabeça que não me deixava pensar direito. Tinha uma transferência bancária que fazer, as unhas para pintar e uma dispensa que gritava por supermercado. Já estava atrasada, claro que estava atrasada. Mas ainda tinha que por gasolina.
Paro num posto estratégico: “completo, por favor”. E ponho a mão na bolsa, procuro a carteira. Procuro melhor. Despejo a bolsa e cadê a carteira?
“Senhor, senhor! Pare já tudo! Não trouxe a carteira!”. Passado o momento de stress e parada a operação, o senhor diz: “Você deve 40 euros”.
E então vou falar com a sua superior. Explico-lhe que me esqueci da carteira em casa, que não me apercebi até já ter o tanque quase cheio. Que foi sem querer, “que vergonha”. “Não pode tirar o carro daqui até pagar os 40 euros”. Não, mas tenho de ir a casa buscar o dinheiro. Não me vai fazer apanhar um táxi, pois não? Confie em mim, a serio que eu volto para lhe pagar o que lhe devo. Ela explica-me que se eu não lhe pago, tiram esses 40 euros do salário dela, e eu continuo a garantir-lhe que isso não vai acontecer. E então ela diz. “Mas ligue a alguém para que lhe traga o dinheiro, Você não tem ninguém?”
Autch.
O golpe baixo doeu muito. Mas peguei nele e fiz a jogada inversa. Não, não tenho ninguém, estou sozinha nesta cidade estranha. Não tenho família, as outras pessoas que conheço estão a trabalhar e agora você quer estragar ainda mais a minha vida. Diga-me lá, pareço-lhe uma impostora?
Quando voltei para pagar, disse-lhe: “Desculpe lá a confusão” e ela respondeu: “Desculpe se fui demasiado dura consigo”.
Apelar ao sentimento funciona sempre.
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