Uma viagem relâmpago

18.5.10

Era uma tarde normal, corrente, dessas de todos os dias. Até que alguém grita, lá do fundo, do sítio de onde vêm as grandes noticias. Era um grito bom. Demasiado bom.
E antes que eu percebesse, já tinha dado pulinhos de alegria, ligado aos amigos para desmarcar os planos, ligado a outros para fazer um pouco de inveja. Já tinha marcado o hotel, requisitado o carro e estudado o caminho. Impresso uma quantidade impressionante de informação religiosa.
E sem dar-me conta, eu estava no Porto. E o Papa também.
O problema agora era chegar até ele. Porque insistiam em perguntar-me: “Onde está a sua credencial?”. E eu pensava, “se você soubesse que esta viagem foi decidida há oito horas atrás não me perguntaria isso”. Mas tudo bem, faz um sorrisinho aqui, uma história triste ali, um “viemos de propósito desde Espanha”, omitindo o facto de que a fronteira está a 100 quilómetros.
E lá fomos nós convencendo e passando as barreiras. Pouco a pouco sentindo-nos tão importante quanto os mais importantes. Ouvindo histórias de noite ao relento e saltando com os famosos “E vivó Papa, olé, olé”. Registando tudo.
No fim colámo-nos aos correspondentes especiais do Vaticano, fingimos um sotaquesinho meio “mamma mia” e, sem precisar de grandes objectivas, gravamos o velhinho cansado a ler, educadamente, em português.
Foi uma viagem relâmpago, dessas que deixam gostinho a quero mais. Porque aquelas intensas sete horas tinham que resumir-se a um minuto e meio. Um minuto e quarenta e seis, com um pouco de choradinho. E monta no carro, e pára a meio do caminho, e grava o off, e envia. Tudo para, às onze da noite, receber uma mensagem daquele sítio de onde vêm as grandes noticias. Uma mensagem que dizia: “Parabéns, fizeste um bom trabalho”.

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