Ahm?

20.5.10

Há uma “rapariga” do meu trabalho que não entende o que eu digo. Ela, e o atendedor automático que transforma o que dizemos em SMS. E cada vez que falo com ela, cada fez que falo com qualquer um dos dois, tenho vontade de chorar. Levanto-me e vou dar uma volta. Dou murros mentais nessa minha cabeça oca, estúpida. Mordo a minha língua de trapo, incapaz de reproduzir detalhes. Porque o cê não se lê igual ao zê, já sei disso. Que o á é sempre aberto e que os ditongos, os justos. A serio, por mais incrível que pareça, isto não é uma novidade para mim. Mas eu funciono como na escola, naquele típico teste de físico-quimica em que trocamos todas as fórmulas. Elas até estavam nas cábulas, mas nós, cobardes, não tivemos coragem de ver. Eu sei que poderia arriscar menos, usar sempre “não crente” ao invés de “céptico” (a serio, amigos, tentem dizer “escepticismo” em espanhol e, se conseguirem, ganham um rebuçado). Mas eu não faço isso.
E então quando falo com essa tal mulher do meu trabalho, ela começa a franzir a testa, põe uma cara de concentração, acerca os seus olhos à minha boca, e no fim, invariavelmente, diz: “Ahm?”.
Até que outro dia, fartei-me e disse-lhe: “Ouve lá, estas surda, deverias ir ao médico ver isso”. Ela ficou ofendida, mas eu resolvi parte do meu problema. Agora só preciso arranjar uma nova técnica para que o atendedor automático deixe de escrever “Hola, soy Martina”, ao invés de Marina e “Un queso”, ao invés de un beso.
Quando isso aconteça, serei uma pessoa feliz.

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