A check list

27.10.09

Quando eu era pequena e batia nos rapazes do recreio, escrevi um poema que marcou a minha infancia. Eu, que ja nessa altura fazia as composições dos meus amigos em troca de rebuçados, resolvi pôr no papel todas as características que queria que tivesse o meu futuro marido. Imprimi o texto em formato “pocket” e colei-o na carteira (aquele mini álbum de fotos que levávamos no bolso e chamávamos de carteira, lembram-se?).
Nessa pequena obra de arte eu dizia que o homem da minha vida tinha de ser alto e musculoso (tendo que conta que nessa altura, no auge dos meus 10 anos, eu era mais alta que a maioria dos rapazes da minha turma, a tarefa era difícil). Tinha de ser inteligente, divertido e comer gomas (sim, era um requisito). Tinha de gostar de mim, ter os dentes direitos (eu usei 10 anos de aparelho, tenho desculpa) e não podía deitar perdigotos enquanto falava. O sucesso do texto foi instantâneo e, em poucas semanas, todas as minhas amigas andavam para lá e para cá com o meu poema escarrapachado nas suas carteirinhas. A moda durou cerca de um ano e, nesse período de tempo, só uma de nós arranjou um namorado que preenchia os requisitos. Não, não fui eu.
À medida que fui crescendo e relembrando essa minha experiência como guru sentimental, fui revoltando-me cada vez mais com essa história. Como é que eu escrevi o poema e quem ficou com o “príncipe encantado” foi a tontinha dos olhos azuis? Como é que eu escolhi as palavras e todas as minhas amigas fizeram delas uma bíblia na sua busca pessoal por um homem-perfeito? Porque é que elas arranjavam namorado e tiravam o papel da carteira e eu continuei com esse poema na minha cabeça durante anos e anos?
Dessa revolta saiu uma resolução. Farta de perder, decidi nunca mais contar a ninguém a minha "check list". Quem me conhece sabe que eu digo sempre por ai que o meu homem perfeito é x, y, e z. Que tem de ter isto, aquilo e aculotro. A conversa garante sempre umas risotas e umas declarações de amor improvisadas, bebemos uma cerveja e esquecemo-nos do assunto. Mas o que ninguém sabe é que essa não é a verdadeira "check list". Sim, ela existe, mas é só minha. Não voltarei a cair no mesmo erro. Já paguei muito caro pelo meu altruísmo quando tinha apenas 10 anos de idade

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