"Ventinho"

23.1.09

Tudo começou de manhã quando cheguei à paragem do autocarro. Diz-me um amigo:
- Hoje a minha mãe não vai dar aulas. As escolas foram fechadas por causa dum ciclone.
- Bah. É por isso que o ensino está como está….
- Cambada de preguiçosos esses professores. Coitadinhas das crianças… não podem apanhar frio – disse o meu amigo em tom de desprezo, já invadido pelo mau humor matinal de quem não tinha sido dispensado das aulas e ainda lhe esperavam cinco horas de “montagem audiovisual”.
Saindo do autocarro, ouve-se um comentário enquanto a Marina era empurrada pelo vento.
- Joder.
O dia pasou com tranquilidade (e muitas montagens audiovisuais). Uma ou outra página de jornal alertando para o ciclone, contando sobre as escolas fechadas e os ventos a 160 km/h.
Mas até àquele momento, não passava de alarmismo dos media.
Como boa aluna, que não se deixa influenciar por estas coisas, cheguei à aula de espanhol. Qual aula? Escola fechada. Motivo? Ordem da “concellería” devido ao ciclone.
Mas que ciclone, caramba?
Eu que nunca tinha visto dessas coisas perguntava-me se um ciclone era só aquele “ventinho” que me empurrou para o lado durante a manhã. Mas a resposta veio rápida.
Quando chegámos a casa (depois da ida em vão à escola de idiomas) começa a sentir-se um vento. “Um ventinho”. Um pouco forte, eu diria.
É então que falta pela primeira vez a luz, justo quando estava a dar o meu programa preferido da televisão espanhola. Depois pela segunda vez, enquanto fazíamos o jantar. E, de repente, o vento e a chuva tornam-se na banda sonora da casa. Ponho a música alta, mas o barulho do vento supera-a.
Começo a ficar preocupada com o meu carro, coittadinho, estacionado na rua. Vou a janela espreitar. Um homem a passear o cão (suicida). Vem uma rajada de vento derruba-o (eu disse que era suicida). Por enquanto o meu carro continua no sitio.
Falta a luz outra vez. Ponho a musica ainda mais alto. Agora as janelas tremem.
Como dizia o meu amigo. “Não te assustes. Estes ventos são só para perceberes melhor a história dos três porquinhos”.
Por agora agradeço aos céus a minha “doble ventana” e rezo para que a minha casa seja das de tijolo e que esteja protegida contra ventos de 160 km/h. Neste momento, acabaram de chegar também os trovões e os postes de electricidade começaram a tremer. Tento espreitar outra vez o carro. Mas a névoa já não deixa ver tão longe.
“Coitadinhas das crianças, não podem apanhar frio”, dissemos hoje enquanto esperamos o autocarro naquela amena manhã.

Actualizações: Afinal ontem os ventos chegaram aos 182 km/h, morreu um homem ao levar com uma árvore em cima e a ventania continua. Agora acompanhada do sol.

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